Mundinho-tigela

quinta-feira, 26 de junho de 2008

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"  guerra fria foi o período..."
"Vem aqui lavar esta louça menina!"
E lá ia Mariana.
Mariana era menina esperta, alta, elegante( embora tenha apenas seus 15 anos): um doce de menina. Morava num lugarejo perto de Santa Fé, um bairro cujo nome nem ela mesmo sabia; com sua mãe e seu pai. Bom, este último morou com ela até que ele faleceu, no ano anterior a este que vos falo. O lugarejo era bonito, mas não tanto para Martiana, talvez por ter nascido ali e se acostumado àquela paisagem: Uma verdadeira tigela, com eles no centro, porém elevados; nas bordas da tigela, capim rasteiro, porém suficientemente alto para balançar ao comando eólico; vez ou outra, porém constantemente, encontravam-se árvores de diversos tipos: salgueiros, choronas, sabugueiro, abacateiro, enfim; No centro, como já vos disse, a casa; Nos fundos, uma plantação de tudo quanto é tipo de vegetais: alface, ervilha, milho, arroz, feijão, enfim. Como já deves concluir, seu sustento provinha dali.
Mas, saindo desta descrição, Mariana foi lavar a bendita louça.
"Estava estudando não é mesmo? Ouvi seus sussurros..."
"É eu estava..."
"Pois não devia. Se ocupa com estas baboseiras: mulher não deve estudar. Mulher tem que se acostumar a trabalhar, viver na cozinha, ou limpando a casa. Mulher tem que alimetar os filhos e só. Ouça: Vem aquele professor por ali. EU só quero que você saiba ler e escrever e falar: nada mais. Não quero você aprendendo coisa que não vai importar, em vez disso vem me ajudar. agora vá, ele já está chegando."
E lá se ia Mariana caminhando: seus passos arrastados, tristes. Ela gostava de estudar, mas sua mãe tinha razão: seu futuro não iria além de um marido, filhos e sua vida doméstica. Todas as mulheres deveriam ser assim, afinal. Nunca havia saído daquela tigela, mas elas deveriam ser assim mesmo.
Ela lembrava de uma vez que sua mãe disse que amou ter uma filha, que quando ela ficasse velha e cansada, a filha ia cuidar dela: um filho a largaria e viveria com sua família. Hilda, sua mãe, também disse que se ela fosse embora, um dia, para levá-la, tinha medo de ficar sozinha, velha e sem ninguém.
Mariana nunca deixaria sua mãe. Nunca.
Naquela tarde veio o professor, rapaz alto, branco, loiro, de voz grossa, porém boa de ouvir. A ensinou matemática, português(as únicas matérias que Hilda permitia) e foi-se embora. Mariana gostava de história, uma vez havia roubado um livro dete tal professor(sim, aquele que ela lia antes de sua mãe chamá-la para lavar a louça, que, no fim, foi lavada por Hilda, devido à chegada do professor).
Mariana queria ver o mundo lá fora, estudar novas paisagens. Seu sonho era viajar pelo mundo, conhecer os outros países, outras culturas, outras pessoas. Tudo o que conhecia era Hilda, este professor, seu pai e seu pequeno mundinho-tigela.
Um dia decidiu que iria, por fim, viajar. Não seria viajem longa, voltaria no mesmo dia, talvez cinco horas no máximo. Seu destino: centro de Santa fé.
À noite, na verdade quase amanhecendo, escalou aquele caminho pelas ordas da tigela. AO cehgar lá em cima, o ar frio batia fervorosamente em sua face. Estava com medo. Havia deixado um bilhete na janela que dava para a pequena obra que Hilda fazia na horta. Seguiu o casminho, desta vez descendo aquele morro. Por momentos derrapava. Finalmente achou o que queria: gente. Perguntou como ir e voltar de Santa fé, centro. Ao obter resposta fez o ordenado: pegou um caminho, não era distante dali, de cimento. Seus olhos ficavam perdidos por toda aquela nova paisagem que surgia. Gente andando pela rua, que já estava abarrotada. Ficou ali por alguns instantes, aprendeu que existe lugares onde as crinaças sem pais vão. Chamava-se orfanato. Decidiu voltar para sua tigelinha. Andmou o caminho, subiu o morro e a imagem que viu dali quase a fez rolar morro abaixo: sua casa, uma vez amarela, agora estava negra como carvão. Desceu correndo todo aquele morro gritando por sua mãe, Hilda. A encontrou. Porém carbonizada, seus olhos desesperados.
Ficou chorando ao lado de Hilda, tentando entender o que acontecera. Saiu de sua casa, desolada com a dura realidade que se abatia sobre ela, sobre suas costas. Na árvore, um bilhete pregado:
"A quem uqer que veja,
Meu nome é Hilda, a idade não importa. Declaro que isso não foi criminoso ou acidental. Foi suicídio. De minha pessoa. Nada mais me resta. Meu marido, morto; minha filha, fugiu de casa à noite. Nada me resta, nada me prende mais aqui.
Declaro que..."
TUdo girava ao redor de Mariana. Ela fora o motivo do suicídio. Mas, havia deixado um recado na janela, porque sua mãe suicidaria? Deixara um recado dizendo que voltaria em torno de 5 horas. O desespero.
Mariana correu até a janela, agora carbonizada. Agachou no canteiro onde havia um buraco.
Afundando sua mão na terra, viu o bilhete. Provavelmente o vento o jogara ali fora, e o mesmo vento jogara terra por cima, tornando po bilhete invisível.
Estava explicado. Ninguém viria ali, ela teria que avisar a alguém.
Foi então à cidade, seus passos mais arrastados que da outra vez. Não perguntou o caminho, sabia já, e se virou sozinha. Agora teria que se virar sozinha.
Olhou mais uma vez para trás, aquele monte verde no meio da selva cinzenta. Parecia que o sol só batia ali. A visão seria linda, se Mariana não estivesse desolada. Sua mãe era mulher trsite, mas daí a suicidar. Não conseguia desviar a culpa, ela sabia que, no fundo, ela era a culpada.
Fi andando por aquele caminho acizentado, em busca de alguém que ajudasse. Pra onde ela iria?
Talvez o orfanato. E virou a esquina, deixando pra trás o belo monte verde, seu mundinho-tigela, que nunca mais tornaria a ver.

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