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domingo, 29 de agosto de 2010

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Há um tempo, escrevi este pequeno post para um RPG baseado nas aventuras de JK Rowling, escritora da série de livros do Harry Potter. Fala de uma manhã do personagem Benjamin Baker, inventado, professor de vôo da escola. Se não gosta de fantasia, vai ouvir "Meteoro" do Luan Santana. Afinal, porque não sonhar de vez em quando?
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Por algum motivo, Benjamin estava extremamente nostálgico aquela manhã. Não sabia ao certo se era resultado da noite de sono conturbada, ou se fruto natural do aniversário de sua partida de Oxford, Oxfordshire. De qualquer forma, estava sentado em sua cama, sentindo cada parte de seu corpo apresentando os sinais inconfundíveis do início da velhice. Suas costas doíam, e sua cara parecia paralisada por algum feitiço da inexpressão. Seus olhos rejeitavam a todo custo qualquer raio solar que tentasse abusar de suas retinas, fechando as pálpebras ao menor sinal de sol. Seu rosto estava enrugado, não somente pelas marcas naturais de seus 51 anos, mas também por causa do sono que ainda não saíra de suas costas, e tentava o atrair para a cama como um demônio tentando-o para o inferno. Mas ainda havia em seu cérebro um mínimo de maturidade e responsabilidade que o fizeram, de alguma maneira, encontrar um fiapo de energia naquele corpo esgotado e forçar-se contra os gostosos e macios demônios de 67% poliéster e 33% de algodão.
Benjamin não dormira bem àquela noite. Seus sonhos estavam cada vez mais estranhos. Quando sua cabeça recostou-se na maciez de seu travesseiro, sua cabeça foi tomada por uma imensidão azul marinha e disforme, como um campo negro no meio do nada, com algumas névoas à altura de seu joelho. Ao fundo, podia divisar a silhueta de uma mulher, que o lembrou vagamente de alguém muito especial. Conforme andava em sua direção, a mulher tomava aparências mais velhas, mais velhas, e então cadavéricas, tornando-se nada mais que uma caveira de pé na névoa. Lágrimas caiam de seu rosto perplexo ao ver sua mãe ali, naquela situação deplorável à qual se reduziam todos os seres humanos, meros mortais. O mesmo aconteceu com seu pai, mais adiante. E então, Benjamin divisou suas feições em uma figura mais distante. Mas ele não queria chegar mais perto, sabia o que aconteceria se caminhasse até lá. Mas a figura veio de encontro a ele. Benjamin corria pelo campo escuro, fugindo de si mesmo, mas seu reflexo era mais forte, e cada vez mais velho, mais velho, e então putrefato. E assim, com a imagem de si mesmo alguns anos depois da hora fatal, o sol banhou-lhe os olhos na hora do amanhecer.
Benjamin recebeu a lufada fria do vento da manhã ao sair de sua ducha cuja água estava tão quente que o banheiro parecia mais palco da mais violenta queimada. A toalha de algodão percorria cada centímetro de seu corpo quando seus olhos azuis avistaram o espelho do banheiro. Mantinham-se fixos em algum ponto na base do espelho. Ficou ali um bom tempo parado, talvez por cinco segundos, admirando aquele ponto na base do espelho. O ponto era um relógio, cujos ponteiros estavam em um formato muito singular. Eles passavam uma informação peculiar a Benjamin. A mensagem era “Você precisa estar na orla da floresta em aproximadamente dez minutos para uma aula, senhor professor.” Súbito, a toalha foi deixada ao chão, e Benjamin iniciou uma corrida desenfreada pelo quarto. Do banheiro, seus pés o guiaram diretamente para a cômoda que, com diversos puxões e empurrões teve todas as gavetas abertas. De dentro da superior retirou algumas várias roupas de baixo, que caíram em cascata ao chão. Uma delas foi pega e vestida, seguida da calça jeans e da blusa negra estampada de Chaplin, um pensador trouxa cuja obra Benjamin era admirador fervoroso. Após um giro nos calcanhares, seguiu para seu guarda-roupa, removendo do cabide um blusão branco simples e liso, que foi praticamente empurrado por sobre o corpo do professor afobado. As meias foram postas às pressas também, e da mesma forma os tênis, pretos e simples. Saiu dali correndo, batendo a porta trás de si, mas não sem antes dar uma olhada para o seu aposento, extremamente desarrumado. As suas roupas de baixo pareciam ter explodido para fora da gaveta, havia blusas jogadas no chão a distâncias incríveis e uma infinidade de meias se alastrava como fungo, salpicando aqui e ali o quarto. Sabia que os elfos não entrariam ali, afinal havia várias meias pelo quarto. Ele deveria arcar com as conseqüências da sua desorganização, sozinho, mais tarde.

“E ainda vêm me perguntar por que minha barba é tão mal-feita!”

De como primos se tornam irmãos

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Há um tempo que estou com esse post encaminhado na cabeça, mas infelizmente ou felizmente, as coisas têm andado intensas no colégio e no trabalho, mas enfim, num domingo ocioso, a cabeça volta a funcionar e asboas lembranças voltam me atingir em cheio.
Venho falar de como primos se tornam irmãos. Simplesmente isso. Mas tenho motivos para refletir sobre isso justamente agora. Como a maioria das pessoas que escrevem esse tipo de coisa, uma experiência recente me fez parar para pensar a respeito: as férias escolares. Passei este período de ócio e relaxamento na casa de meu pai, aqui no Rio e então fomos viajar por um tempo para Saquarema, recanto paradisíaco dele, e lá nos encontramos com minha vó, sua mãe, com meus primos que moram com ela.
Não estamos mais naquelas maravilhosas idades infantis, em que as maiores preocupações da vida eram quantas brincadeiras diferentes poderíamos fazer em um dia de sol, ou de quantas maneiras diferentes poderíamos nos esconder num "pique-esconde", mas à nossa maneira curtimos bastante a estadia naquele lugar. Em meio à brisa fresca da varanda, conversamos sentados em cadeiras de praia sobre diversas coisas: falamos sobre trabalho, sobre a escola e a faculdade, sobre o rumo do pagode e o fim do samba, falamos sobre a vida do vizinho que deu vexame ao ficar bêbado e estragar a festa da família, falamos sobre garotas, sobre mulheres, falamos sobre a brevidade da vida, falamos sobre amigos e falamos sobre religião. Enfim, falamos em muitas coisas. NO entanto, à medida que as conversas passavam, fui percebendo que a pessoa que falava não era mais meu primo. Cada vez mais, meu primo se tornava meu irmão.
Na verdade, tenho que parar para esta observação: ele sempre foi meu irmão. DUrante um bom tempo da minha vida, fui filho único, e sempre o considerei meu irmão, mas ultimamente, nossa relação fraternal vem crescendo e se fortificando, a cada dia. E a cada dia mais, percebo que nós pensamos muito igual. Percebo isso bem quando vamos andar de bibicleta, quando saímos do recanto da casa para cair nas ruas de barro do local, e explorar, e descobrir as belezas que saquarema esconde. Sempre que nos vemos em uma bifrucação, ou numa encruzilhada, olhamos para as opções: a que tiver mais verde, a que tiver mais mato, nós vamos. Talvez há quem se pergunte porque disso, mas respondo de pronto: nós dois amamos a natureza, gostamos do visual do local, de estar em contato com todas aquelas belezas naturais. O cheiro do mato, a diversidade dos cheiros inebriamtes das diversas flores escondidas no meio da relva, provoca uma diversidade de sensações, que apenas contribuem para uma deliciosa memória olfativa, dos melhores momentos que passo com meu irmão mais velho, andando de bicicleta pelas ruas e pelas paisagens da saquarema, vislumbrando ao horizonte e por cima das folhas de taboa e capim navalha que permeiam os caminhos, o brilho dourado do maravilhoso pôr-do-sol.