Colação - Silvio

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

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Foi muito difícil resumir em poucas palavras o sentimento que temos pelo senhor. Seria talvez “Agradecemos imensamente a oportunidade de ter tido aula com um mestre, um educador, um filósofo, uma pessoa maravilhosamente instigante.” Mas isso seria seco demais, curto demais, frio demais.
Viemos hoje homenagear um grande ser humano. Uma pessoa que nos ensinou não apenas os pKa’s, os alfas de HL, os Kf-mil linhas, as curvas de titulação e a zona de viragem do eriocromoT. Não, isso foi uma parte realmente importante, mas as principais lições da sua aula foram aquelas outras. Eu juro que deveria ter anotado em algum cantinho da página algum de seus discursos, porque eram lindos.. Verdadeiras lições de vida.
Eu ficava vidrado em cada palavra que o senhor nos dizia, sobre o EDTA, porque ia cair na prova; ou sobre a vida, sobre o aprender. Lembra, quando o senhor dizia que a gente aprendia pra esquecer, mas relembrar mais facilmente quando fosse preciso? Então, tudo era fantástico.
A instituição, infelizmente, está às beiras de se despedir, com a sua aposentadoria iminente, de um dos seus melhores educadores. É claro que faz parte de um processo natural de renovação, mas não podemos deixar de nos sentir privilegiados. Tivemos a honra de ter aula com Silvio Soriano, uma pessoa que, sem tirar o pé do chão, acredita nos sonhos, acredita na importância primária do saber e do conhecimento na vida do ser humano. Afinal, sem a sede pelo conhecimento, sem a avidez por explicações, seremos eternamente apertadores dos botões que a vida nos oferece. E posso dizer que o senhor transmitiu esse sentimento tão bonito para nosso coração. (Aliás, ficamos sedentos pelo prometido discurso final de Quanti II que todos dizem ser o mais tocante.)
Por fim, em resumo, agradecemos imensamente a oportunidade de ter tido aula com um mestre, um educador, um filósofo, uma pessoa maravilhosamente instigante. Muito obrigado, Silvio, pelo ser humano que o senhor é, e por todos os ensinamentos que nos transmitiu.

Colação - Discurso do Orador

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Depois de um tempo, decidi postar aqui o discurso de formatura da minha "turma" no CEFETEQ. Tura Marie Curie. Sinto saudades, MUITAS. De verdade. Apesar de tudo.
Ah, o discurso não fiz sozinho, teve a ajuda brilhante do Renato. Mais que amigo, um irmão.

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Nós nunca fomos uma turma unida, ou pelo menos nunca nos consideramos como tal. Turma, pelo menos para mim, remete a uma idéia de união, companheirismo, família talvez, paz... E vamos concordar: passamos um pouco longe disso.
Procurando justificativas, podemos culpar nosso começo nas TM’s, o muro formado no início da QM381, lado A, B, C, D... ou talvez nosso próprio egoísmo natural, visceral, inerente a qualquer ser humano (por que pensar em 25 se posso pensar apenas em mim?). Mais fácil ainda, poderíamos culpar algo inexplicável, além do nosso controle, dizendo que, simplesmente, somos pessoas “incompatíveis”. Bem no fundo, sabemos que isso tudo é história pra inglês ver: nossa “turma” é formada por pequenos grupos de pessoas que se dão muito bem, e/ou tem uma desavença em comum, tanto faz.  Esses grupos, sempre que possível, viviam isolados, para evitar conflitos, mas quando eram forçados a um contato direto...
Cadeiras voando durante provas, práticas que mais pareciam lutas de vale tudo no laboratório, quase ameaças de morte para decidir quando faríamos síntese, ou naquelas discussões acaloradas sobre questões extremamente importantes como se o trabalho ia ser entregue hoje ou amanhã. Discussões intermináveis sobre trabalhos, provas, professores, greve, relacionamentos, futebol, religião, política, diploma, declaração, estágio... TUDO e qualquer coisa era motivo de polêmica.
Então como escrever um discurso para uma turma que não existiu, enquanto grupo único de pessoas em convivência harmoniosa?
A nossa “turma”, era uma “turma” criada na individualidade de cada um de nós. Seria falso representar a identidade da QM381-2011.2 como outra coisa, senão representando a identidade de cada aluno com sua qualidade, imperfeição e interesse do seu grupo. Essa heterogeneidade e o fluxo de pessoas entre os grupos, geraram uma instabilidade tamanha, que já fomos considerados uma ótima turma de Química da Federal e, no minuto seguinte, a pior turma que nunca, jamais, em hipótese alguma deveria ter cruzado os portões de entrada da instituição – e isso milhões de vezes sucessivamente!
No entanto, nem tudo são espinhos em nosso caminho. De alguma maneira bizarra e desconhecida, essas 25 almas guardam entre si uma relação literalmente entre tapas e beijos. Por algum motivo durante alguns momentos específicos, todo o rancor parecia desaparecer como uma nuvem e vivíamos ótimos momentos em grupo, em harmonia. Lembram das viagens de ônibus, regadas à farra e diversão, como à Heineken? E as semanas de química, seus preparativos, frustrações e alegrias? Lembram-se das brincadeiras e ironias durante as aulas? E aquele épico dia de seminário de síntese, que a turma toda vibrava em uníssono com aquele excitante joguinho do unicórnio robótico, enquanto o Fred e o Daniel não chegavam? Tivemos momentos ruins, momentos muito ruins, momentos horrivelmente péssimos, mas tivemos momentos bons.
O fato é que junto com a transformação do CEFETEQ em IFRJ, nós nos transformamos. O “Bruno” que existia há 4 anos atrás não é o que vos fala hoje. E creio que nenhum de nós é. A luta, o tempo, o sofrimento, a realização, o crescimento, todos de alguma maneira nos engrandeceram ao longo dessa jornada, sendo como pequenos tijolinhos para construção da nossa ponte. Há um tempo, percebi que viver é isso, apenas isso: se você passa por algo e percebe que mudou, que um aprendizado foi imposto, é porque cresceu, e mais do que isso: se cresceu, valeu a pena.
É claro que eu desejaria ter tido uma turma unida, firme e estável, mas sinceramente não acho ruim toda essa confusão e instabilidade. Além de várias histórias pra contar, de experiências únicas (aposto que pouquíssimas pessoas viram uma carteira da sua sala sair voando em direção a um colega), crescemos enquanto indivíduos. Ao doutrinar nossos sentimentos para lidar com as situações de conflito, aprendemos a nos conhecer, a tomar ciência dos nossos limites. Se houve um aprendizado que vamos levar para toda nossa vida é esse: a maturidade emocional que adquirimos.
Aquela ponte, meus caros, que parecia impossível e interminável está acabada. Apesar dos percalços e de todas as dificuldades construímos e chegamos ao outro lado. Somos técnicos em química. Seremos os melhores técnicos em química que pudermos. Seremos engenheiros, químicos industriais, bacharéis, petroleiros, professores, médicos, economistas, físicos, oceanógrafos, geólogos, farmacêuticos e tantas outras coisas que nem imaginamos agora. Milhares de outras pontes começarão se é que já não começaram na verdade.
Não importa. O que importa essa noite pra mim é lembrar que hoje não sou o que era. E daqui há 5, 10, 15, 20 anos, quando vir uma foto dessa noite também não seremos mais os mesmos. Quem sabe algum dia não nos encontramos e, com uma outra mentalidade, não rimos dos conflitos e das confusões? A montanha que nos separa hoje, pode, daqui a alguns anos, parecer nada além de um montinho de sujeira. Ou pode permanecer uma montanha. Mas as lembranças dos 4 anos e o rosto de cada um de nós agora ficará marcado para sempre, junto com as lembranças que levaremos dessa instituição, que podem ser boas, ou ruins, mas certamente foram intensas.
E pronto! Afinal de contas, não valeu a pena?

Sobre livros e livros

terça-feira, 21 de agosto de 2012

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Hoje em dia, eu venho reparando que as pessoas estão cada vez mais conectadas, cada vez mais informatizadas, e que os livros vêm sendo deixados de lado. Não vou dar aqui uma de tradicionalista, de avesso à tecnologia, pois gosto muito do meu notebook (cuja tecla "m" por sinal arrebentou, estou aceitando teclas "m" de presente, ou até mesmo novos notebooks, não me importo) e do facebook, 9gag dentre outros. Mas tem certas coisas que jamais serão substituídas.
Não acho que seja totalmente repulsiva a ideia de leitores virtuais e E-books e essas coisas, mas sinceramente nada jamais vai substituir a emoção de se ir à uma livraria, perder-se no meio das estantes, lendo capas e contracapas, fazendo contas e ponderando prioridades pra tentar comprar o máximo de livros, os mais interessantes possíveis. E então, aquela angústia, aquela apreensão de abrir logo o livro, sentir  aquele cheirinho de livro novo, ler as primeiras páginas, conhecer aquela história. E qual será o livro que lerá primeiro, qual o acompanhará no dia-a-dia?
E quando começamos a ler? Ler um livro é mergulhar em um novo universo. Não é algo que se possa fazer levianamente, com a atenção dividida. Não! Ler um livro é uma imersão que exige dedicação total, é por instantes abdicar de sua vida para penetrar naquele novo mundo. E talvez por isso seja uma experiência tão gostosa: quem não gostaria de sair da sua vida por alguns instantes? (Lê-se: minutos, horas, quase um dia!). Ler um livro é tomar um susto quando alguém chega ao seu lado, e você nem percebe, porque estava totalmente focado na leitura. Ler é um exercício, é uma abdicação. Ler é uma arte.
Isso sem falar no tradicional cheirinho de livro novo!! Que cheiro maravilhoso exalam as folhas amareladas dos livros novos quando os abrimos e passamos rapidamente as páginas. Enebriante. E são por essas sensações que temo o avanço dos livros virtuais e o abandono da leitura tradicional. Não acho sinceramente que num espaço de tempo curto os livros serão todos jogados completamente de lado. Mas gradativamente, à medida que as novas gerações substituírem as antigas, as preferências dominantes (ou seja, dos adultos que influenciam os filhos) serão alteradas. E a partir daí, não sei o que pode acontecer: Ou a tecnologia tornará os livros impressos obsoletos, ou haverá para sempre a divisão entre os adeptos da "revolução" e os vanguardistas da "impressão". 
Não acho que esse equilíbrio dure eternamente, um lado certamente ganhará. Espero profundamente que dure. Mas não acredito.

E o dia amanheceu em paz...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

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Estou de volta! Isso pode ser algo bom para todos, bom para mim, ou decididamente uma catástrofe.Mas o fato é que estou de volta, e a fim de levar a coisa um pouco mais a sério desta vez. E recomeço significa atualização, tudo novo, inclusive o nome!
Speculis Anima, espelhos da alma. Blog e Tumblr também. http://speculisanima.tumblr.com/.

Mas como panela velha é que faz comida boa, e relembrar é viver, começa com uma história do meio do baú (não é do fundo do fundo não, foi em Julho/2011).

Vamos?

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O barulho do falatório das pessoas descendo as escadas do prédio, prontas para a labuta diária, o fez sensibilizar para o sol que aquecia mansamente o lado esquerdo de seu rosto enquanto ele dormia. Em sua boca, aquela sensação engraçada de que a saliva tornou-se duas vezes mais pastosa que o normal, e o inexplicável hálito de temperos acentuadamente fortes. Seus olhos tentaram abrir-se, mas a desagradável agressão dos raios solares às suas pupilas fizeram reacender sua dor de cabeça, como uma pequena faísca desencadeia uma grande explosão. E foi somente quando a pontada afiada da dor atingiu o topo interno de sua cabeça, onde quando criança jazia sua moleira, que ele se deu conta de que aqueles passos não eram de sua vizinhança, e que aquela cama onde ele se deitava não era a dele, nem os edredons que faziam seu corpo suar. Aliás, deu-se conta um pouco depois de que aquele peso incômodo sobre seu abdome era nada menos que uma perna.
Seus olhos abriram-se rapidamente, o surto de adrenalina fazendo-o ignorar a pontada violenta no topo de sua cabeça. Havia uma mulher ao seu lado. Uma linda morena de seios e pernas firmes, que jaziam expostos à fina claridade da luz do sol. Sua pele era de um branco bronzeado, que contrastava com o negro das cobertas que lhe atingiam apenas o baixo ventre.
Sua cabeça girava e seus pensamentos não se conectavam uns aos aoutros, para formarem uma linha lógica. Efeito, provavelmente, das diversas garrafas de vinho tinto e martini que salpicavam, vazias, o chão morno de tábua corrida brilhosamente encerada. O rádio, como na tentativa de dar-lhe alguma pista sobre o ocorrido na noite anterior,tocava ao som ambiente uma valsinha que dizia:

"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
E olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era o seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto,
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar..."
SIm, era verdade... Ele se lembrava agora... Seu nome era Miguel, e vivia no auge de seus 30 anos, 18 dos quais destinados ao celibato. Era o responsável pela paróquia de uma cidadezinha do interior de Minas. Mas... O que estava fazendo ali, nu, ao lado daquela muljer e rodeado por tanta bebida?
Sim... Na noite passada... Como todas as outras noites... Aquela menina foi se confessar... Sua voz angelical e delicada contava ao padre, através da parede do confessionário, as atrocidades de uma mulher da pior estirpe. Contava a ele com detalhes os últimos acontecimentos de sua vida voluptuosa de luxúria e pecados. Das primeiras vezes, ele sentira-se enojado com a morena, e olhava-a com a pena de alguém que vê uma alma perdida nas amarras da tentação e do desespero, enrolando-se cada vez mais nas garras do mal. No entanto, à medida que ela prosseguia com sua rotina, as histórias já eram esperadas por ele. Portanto, ele não mais se chocava com o horror da situação: o que lhe chocava eram os detalhes sórdidos por ela entoados. Em sua mente, ele ia criando as imagens das cenas de horror e luxúria por ela descritas, sempre nas quais ela era cercada por homens ávidos por prazer a qualquer custo.
À medida que o tempo passava, as histórias da morena despertavam em Miguel sentimentos esquecidos, sedimentados no fundo de sua mente por anos de castidade. Sentia novamente aquela sensação estranha percorrer-lhe a espinha ao imaginar a morena nua, no ato sexual. O prazer proibido era, a todo custo, combatido por Miguel, que se punia todas as noites pela consciência do prazer que sentia em suas histórias, em sua voz.
Mas a força do instinto animal era muito intensa, intensa demais para a nobreza da castidade espiritual. E na noite anterior, com uma história das mais picantes, a morena conseguiu o que queria: Miguel se rendeu à tentação.
O padre saiu do confessionário e sentou-se nas cadeiras da igreja. Seus olhos estavam aflitos em lágrimas. Suas mãos agarravam-se à cabeça no furor do desespero. Seus pensamentos, perdidos em um turbilhão de ideias e valores, que se chocavam em algum lugar da sua psique, destroçando seu espírito. Sentiu um toque suave por cima de sua bata, na altura do ombro. As mãos delicadas da morena desciam-lhe pelas costas em um carinhoso afago e subiam pela região frontal de seu torax, em um abaraço delicado. Sua respiração suave e com aroma adocicado foi sentida no ouvido do Miguel, lhe dizendo que "Estava tudo bem...". Não, não estava tudo bem. E Miguel sabia disso. Mas não havia como controlar os arrepios que lhe subiam pela espinha a cada movimento da morena. Não havia como controlar seus pensamentos e não havia como controlar a excitação que lhe explodia em seu íntimo. Não houve, também,como controlar o beijo que lhes consumiu, a seguir, em paixão. Suas bocas encontravam-se com volúpia, com desejo, com ardor. As lágrimas ainda caiam dos olhos de Miguel em um desespero afoito, como uma última parte consciente naquele corpo tomado pelas forças da sedução.

"E então ela se fez bonita como há muito tempo não se ousava usar
Com seu vestido decotado cheirando a gaurdado de tanto esperar
E então os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
E começaram a se abraçar..."

As lágrimas desciam agora pesarosas pelo rosto de Miguel, caindo sobre seu peito nu. Estava sentando naquelas tábuas do soalho, os braços em torno dos joelhos numa atitude infantil de proteger-se da realidade que lhe invadia os sentidos. Como pudera render-se àquele ponto? Como pudera chegar tão baixo? Como pudera jogar fora todos aqueles anos de celibato? Como pudera dispensar o compromisso com o divino pelo puro prazer carnal?
Levantou-se vagrosamente, sentindo seus genitais penderem livres, expostos a frente daquele corpo nu, daquela jovem que dormia um sono tranquilo. Sentiu-se sujo, sentiu-se corrompido, sentiu-se o pior dos homens. Caminhou o mais distante possível daquele corpo que era a prova de sua corrupção. Mas o pior era a sensação de ter sido ludibriado pelas artimanhas da carne... A genialidade dos jovens...

"E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais..."

Estavam já subindo as escadarias daquele lugar sujo e mal iluminado. Os risinhos infantis surtiam em Miguel um efeito hipnótico, que parecia manter nele o transe e a excitação daquela transgressão. Alcançou-a no meio da escada, e, segurando-a por trás firmemente, sugou-lhe violentamente o pescoço. O som do prazer emitido pela menina só fez aumentar-lhe o desejo, a volúpia. Entraram afoitos porta adentro, mal se preocupando em trancá-la novamente. Uma vez dentro do apartamento, a menina ofereceu-lhe uma taça de vinho, que tomou sem nem pensar. Duas, três, um martini. E então seu organismo cedeu ao álcool e às drogas que provavelmente estavam ali misturados. E dali em diante não havia mais recordações claras e nítidas. Tudo foi um borrão de pecado, ira e agressão. Lembrava-se de despi-la com violência e desejo, e lembrava-se do toque suave de sua boca doce experimentando-lhe o íntimo. Fizera o mesmo. Lembrava-se, mais a frente, de deitar-se por sobre o corpo dela, agarrando-lhe animalescamente o pescoço, enquanto saciava seus desejos escondidos com seu corpo. Lembrava-se mais a frente de uma onda de prazer nunca antes sentida, e então não se lembrava de mais nada.
(...)
Agora ele estava ali, sentado com as costas apoiadas à porta. A menina, após muito tempo, abriu os olhos. Levantou-se. Espreguiçou-se vagarosamente, com o olhar fixo sobre o corpo nu de Miguel. Um sorriso torto preenchia seus lábios. Sem reitrar os olhos do rapaz,ela pegou o lençol que forrava a cama e caminhou até ele, com suas pernas delineando maliciosamente cada passo. Jogou por cima do corpo dele o lençol, deu-lhe uma piscadela maliciosa e, rindo abertamente, encaminhou-se para seu banheiro.
Miguel ficou ali, parado. Enquanto as lágrimas desciam de seus olhos em um choro que convulsionava todo seu corpo, suas costas sentiam o frio da porta, e o corpo o toque suave do algodão alvíssimo manchado com o sangue da virgindade e da "inocência" que Miguel tomara da menina na noite anterior.

"E o mundo compreendeu.
E o dia amanheceu
Em paz."

Carnaval

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

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Em algum lugarzinho escuro e úmido do meu subconsciente, duas figurinhas caricatas conversavam entre si. Um, era um velho um tanto turrão, mas bondoso e carismático, cujo nome era Personalidade. Vivia sentadinho em sua cadeira cativa em algum dos meus lobos pariento-supero-diastero-frontais ou coisa do tipo, coberto com um daqueles cobertores grossos, de modo que não posso dizer sua roupa. O outro era um jovem daqueles bem definidamente jovens: bermudão estilo praia, com uma camiseta combinando razoavelmente, cabelos úmidos com gel e um cheiro de banho recém-tomado constante. Seu nome era id... É, Id, nome estranho, mas fazer o que? Culpe Freud...
ID, com uma daquelas máscaras tipicamente carnavalescas se aproximou do seu Personalidade, que estava quieto em seu canto-cadeira-cativa e lhe perguntou:
- E aí, vovô?! Curtiu bastante o carnaval?
- Claro que sim, BASTANTE!
- Oba! Assim que é bom, sair nos blocos, pegar todas as meninas, gritar MUITO!!
- É, bem, não é por aí não...
- Ora, como assim? Você não disse que tinha curtido o carnaval??
- É, curti, mas à minha maneira...
- Então você não pegou todas as meninas, conheceu gente nova??
- Bom, não. Mas tive bastante tempo pra aproximar mais os laços que já possuía com as pessoas que me fazem muito bem. Conheci mais sobre suas histórias, compreendi mais seus dramas e seus sorrisos, aprendi a ler seus olhares. Passei momentos que ficarão marcados por um bom tempo na minha memória com eles, ótimos risos...Enfim, vivi melhores momentos e novas experiências com velhos amigos.
- Mas e os blocos, ou o desfile? Todo mundo que vai curtir o carnaval tem que sair pra festas e esses lugares!!
- Não, não passei o carnaval rodeado de gente em festas ou nada do tipo. Mas fui bastante à praia, entrei no mar e fiquei lá por algum tempo. Menos do que eu queria, talvez, mas não matei minha mãe à grito, nem meu pai à porrada, no próximo carnaval fico mais tempo por lá (aliás, esta expressão mesmo aprendi com os velhos amigos em novos momentos)... Enfim, não fiquei nesses lugares, mas fiquei mais junto à natureza, conheci mais sobre a Terra onde piso, e descobri que o morro que eu achava ser alto, não era tão alto assim, e que a, que eu julgava cerrada e inacessível, na verdade deve possuir alguma trilha, pois tem uma casinha lá no alto...
- Mas você estava solitário!!
- Jamais! Como disse, estava com as pessoas mais especiais pra mim. E, enfim, mesmo nesses momentos em que estava sozinho, contemplando a natureza, veja bem, não reclamo. Às vezes a gente precisa ficar sozinho pra ouvir aquela vozinha que fala com a gente lá no fundo, e pra admirar as mais belas paisagens... E bom, se a questão é ver pessoas, eu vi sim, percebi e obsevei-as bastante. Não gostei do que vi. Vi soberba, vi uma multidão de solitários unidos em busca de não-sei-quê, dando tiros no escuro em busca desse algo que nem eles mesmos sabem definir. Vi que o homem pode ser bem mal, ele pode gerar respeito das formas mais cruéis que se possa imaginar. Nem gosto muito de falar sobre essas minhas deduções, mas é fato que vi. Vi uma multidão de desesperados, destruindo a si mesmos em nome de uma festa, buscando alegrias engarrafadas e se humilhando por babagens. Vamos mudar de assunto?
- Ah, OK, não gosto também dos bêbados, mas vai dizer que você acha errado sair em blocos, pegar geral??
- De maneira alguma! Acho válido! Aliás, mais que válido! Se é isso que te faz feliz, então vá curtir desta maneira. Nem todos fazem parte daquela multidão de solitários! Alguns são apenas baladeiros curtindo a vida, bato palmas pra eles, de verdade, nada contra...
- Não entendo;. Voc~e acha que curtir o carnaval adoidado é bom, mas diz que curtiu i carnaval de outra maniera...
- Exato! Cada um tem um ritmo e um momento, e ele deve ser respeitado. Vi muita gente bebendo, pulando e gritando sem a mínima vontade de ali estar, como se fosse pura obrigação curtir o carnaval desta maneira. A folia está dentro de nós, e nós devemos curtir batante o carnaval, da maneira que nos fizer sentir melhor. Cada um tem a sua própria estrada para ser feiz, e usa de veículos diferentes dependendo das necessidades do momento.
E assim eles continuaram discutindo, mas agora sobre outras coisas, como a falta de memória dos velhos, a solidão dos jovens, sobre as paixões e prioridades na vida do homem...

É, acabou...

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É, acabou. Talvez o mais correto seria eu estar chorando, triste, em pânico, por encerrar uma rotina de quatro anos que, basicamente, definiu a minha vida. Deveria estar desesperado por confrontar uma nova rotina, sem a federal, como tudo que é novo causa na gente, mas não estou. Deveria estar me derretendo em lágrimas por não ver mais as pessoas com quem convivi por pelo menos três anos, mas, novamente, não estou. Estou normal. Se a escola tivesse acabado a um ano atrás, talvez eu estivesse assim, nesse espírito bucólico, saudosista. Afinal, guardo em algum lugar soterrado no lixo dos últimos períodos as lembranças da TM-121, a melhor turma que eu já vi no mundo, da felicidade nas aulas de ed. física jogando vôlei, e das fotos tiradas aleatoriamente a qualquer momento; as lembranças dos diversos laboratórios e das diversas aulas práticas, das aulas teóricas e das provas monstruosamente difíceis que me faziam estudar e instigavam a nossa inteligência; dos discursos de verdadeiros professores, que nos instigavam a refletir nosso papel na sociedade, a importância e o valor do raciocínio e de ser um ser pensante no mundo contemporâneo; dos projetos de semana de química, de síntese e de IC, que me faziam refletir, pensar, passar horas a fio na frente de uma bancada, ou andando de um lado pra outro, lendo, lendo e lendo, estudando, pensando, sendo picado por mosquitos e contando larvinhas em potinhos d'água e sendo enganado por elas.. Mas não. A imagem da escola se estragou em mim. Os três anos maravilhosos que ela me proporcionou estão escondidos em algum lugar nos confins da minha mente, pois a imagem mais urgente, mais aparente, é aquela do sofrimento do último ano, de ter de suportar horas e horas de aulas que eu não desejaria ter, com professores que não faziam a mínima ideia do que estava sendo dita. A imagem que fica na minha cabeça é essa, do desespero em que eu estive ao longo desse ano por estar aqui do lado de fora daqueles muros mal-protegidos e sem segurança. E, enfim, aqui estou, fora dos muros mal-protegidos e sem segurança! BINGO! Consegui, estou em ritmo de festa!Sei que em algum momento vou sentir saudades de conviver com algumas pessoas que me fizeram muito bem ali dentro, e com quem o contato se tornará mais raro, ou mesmo desaparecerá (digo de amigos e professores). Mas o fato de me ver livre daquele turbilhão de boçalidades me agrada e me faz tão bem que, por ora, estou um tanto extasiado para sentir essas coisas. Não vou forçar um clima pesaroso, triste e bucólico só porque isso é o que se espera de um fim de uma jornada, ou se um fim de federal. Não, estou MUITO, MUITO FELIZ. Há um ano, a federal deixou de ser um lugar que eu adorava passar minhas manhãs e tardes, para se tornar um lugar para o qual eu era forçado a ir à noite.Amigos, foi muito bom estar com vocês por perto ao longo desses 4 anos. Vocês foram muito importantes pra mim, mesmo, e em algum momento vou sentir muita saudade de vocês (aí pegarei o telefone e vamos marcar de nos vermos, fim de papo).. Professores amigos, sentirei também muita falta dos discursos, dos ensinamentos, da reflexão e do exemplo de vida. Sentirei falta do Larvicídio, pois foi algo que saiu de dentro da nossa cuca, e por fim foi reconhecido pela comissão da escola e da Febrace como algo útil. (CARAMBA! EU fiz algo útil na minha vida! =O). Sentirei falta sim, de cada ladrilho verde daquela escola, até o último grão de poeira mal-limpa que esteve pro lá até o sexto período.Afinal, o "tempo em que eu investi nesta rosa, fê-la muito importante pra mim".A estes, deixo esta última frase neste texto:"...Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..." Raposa - Pequeno príncipe - Capítulo XXI

Prisão de ventre

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Estou com uma prisão de ventre de criatividade. Todos os dias eu entro no blog, paro e penso, mas essa maldita tela branca funciona como uma espécie de trava psicológica, me deixa tenso, a criatividade parece não fluir. às vezes gostaria que ela fosse preta, ou azul, talvez fosse mais fácil. Acho que o azul é a cor que deixa a criatividade fluir, sei lá... Não consultei o Feng-Shui. Hoje, no entanto, resolvi que aqui entraria e faria minha sessão-psicólogo, não dando a mínima pra qualidade ou o que viesse a sair. Foda-se. Viu? EM situações normais eu não usaria um palavrão assim, solto, do nada. EU acho isso arte chula, uma facilidade de humor muito mesquinha. Os palavrões podem ser usados como ferramentas para o humor, mas se muito bem colocados.
Enfim, do que eu estava falando? Ah, sim, da minha prisão de ventre. Não vou ao banheiro desde domingo. Talvez por isso eu esteja hoje um tanto irritado. Acordei assim. Não sei exatamente porque, acho que um dia sem visitar o trono não pode causar tanto mal assim. O fato é que estou irritadiço. Olho pro facebook e ele me dá nojo. Olho pra minha mão e ela me dá nojo (isso talvez seja porque eu acabei de ariar uma panela tensa e ela esteja preta). Olho pro meu quarto e ele me irrita profundamente. Pra que tão branco, porque tão vazio e silencioso? Está faltando umas esculturas aqui e ali pra dar um clima mais decorativo. Falta também alguma arte na parede, nem que seja uma cor de contraste com o branco. E essa maldita cadeira que está desconfortável? ARGH estou um nojo hoje, não estou bom mesmo. Prefiro até evitar um certo contato humano pra evitar ferir alguém, mas na solidão acabo me fechando e me tornando cada vez mias chato. E começou de repente, estava muito bem, mais que bem bem bem na casa da minha avó hoje mais cedo. Talvez tenha sido o angu a baiana que eu comi. Me deixou meio sonolento. EU sou um porre com sono.
Enfim, não sei se é a prisão de ventre criativa, fecal ou se foi o angu. O fato é que estou estressado e irritadiço hoje, não sou a melhor companhia pra um papo casual hoje. Não sei porque. Pouco me importa. O dia está quase acabando mesmo...