Depois de um tempo, decidi postar aqui o discurso de formatura da minha "turma" no CEFETEQ. Tura Marie Curie. Sinto saudades, MUITAS. De verdade. Apesar de tudo.
Ah, o discurso não fiz sozinho, teve a ajuda brilhante do Renato. Mais que amigo, um irmão.
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Nós nunca fomos uma turma unida, ou pelo
menos nunca nos consideramos como tal. Turma, pelo menos para mim, remete a uma
idéia de união, companheirismo, família talvez, paz... E vamos concordar:
passamos um pouco longe disso.
Procurando justificativas, podemos
culpar nosso começo nas TM’s, o muro formado no início da QM381, lado A, B, C,
D... ou talvez nosso próprio egoísmo natural, visceral, inerente a qualquer ser
humano (por que pensar em 25 se posso pensar apenas em mim?). Mais fácil ainda,
poderíamos culpar algo inexplicável, além do nosso controle, dizendo que,
simplesmente, somos pessoas “incompatíveis”. Bem no fundo, sabemos que isso
tudo é história pra inglês ver: nossa “turma” é formada por pequenos grupos de
pessoas que se dão muito bem, e/ou tem uma desavença em comum, tanto faz. Esses grupos, sempre que possível, viviam
isolados, para evitar conflitos, mas quando eram forçados a um contato
direto...
Cadeiras voando durante provas, práticas
que mais pareciam lutas de vale tudo no laboratório, quase ameaças de morte
para decidir quando faríamos síntese, ou naquelas discussões acaloradas sobre
questões extremamente importantes como se o trabalho ia ser entregue hoje ou
amanhã. Discussões intermináveis sobre trabalhos, provas, professores, greve,
relacionamentos, futebol, religião, política, diploma, declaração, estágio...
TUDO e qualquer coisa era motivo de polêmica.
Então como escrever um discurso para uma
turma que não existiu, enquanto grupo único de pessoas em convivência harmoniosa?
A nossa “turma”, era uma “turma” criada
na individualidade de cada um de nós. Seria falso representar a identidade da
QM381-2011.2 como outra coisa, senão representando a identidade de cada aluno
com sua qualidade, imperfeição e interesse do seu grupo. Essa heterogeneidade e
o fluxo de pessoas entre os grupos, geraram uma instabilidade tamanha, que já fomos
considerados uma ótima turma de Química da Federal e, no minuto seguinte, a
pior turma que nunca, jamais, em hipótese alguma deveria ter cruzado os portões
de entrada da instituição – e isso milhões de vezes sucessivamente!
No entanto, nem tudo são espinhos em
nosso caminho. De alguma maneira bizarra e desconhecida, essas 25 almas guardam
entre si uma relação literalmente entre tapas e beijos. Por algum motivo
durante alguns momentos específicos, todo o rancor parecia desaparecer como uma
nuvem e vivíamos ótimos momentos em grupo, em harmonia. Lembram das viagens de
ônibus, regadas à farra e diversão, como à Heineken? E as semanas de química,
seus preparativos, frustrações e alegrias? Lembram-se das brincadeiras e
ironias durante as aulas? E aquele épico dia de seminário de síntese, que a
turma toda vibrava em uníssono com aquele excitante joguinho do unicórnio
robótico, enquanto o Fred e o Daniel não chegavam? Tivemos momentos ruins,
momentos muito ruins, momentos horrivelmente péssimos, mas tivemos momentos
bons.
O fato é que junto com a transformação
do CEFETEQ em IFRJ, nós nos transformamos. O “Bruno” que existia há 4 anos
atrás não é o que vos fala hoje. E creio que nenhum de nós é. A luta, o tempo,
o sofrimento, a realização, o crescimento, todos de alguma maneira nos
engrandeceram ao longo dessa jornada, sendo como pequenos tijolinhos para
construção da nossa ponte. Há um tempo, percebi que viver é isso, apenas isso:
se você passa por algo e percebe que mudou, que um aprendizado foi imposto, é
porque cresceu, e mais do que isso: se cresceu, valeu a pena.
É claro que eu desejaria ter tido uma
turma unida, firme e estável, mas sinceramente não acho ruim toda essa confusão
e instabilidade. Além de várias histórias pra contar, de experiências únicas (aposto
que pouquíssimas pessoas viram uma carteira da sua sala sair voando em direção
a um colega), crescemos enquanto indivíduos. Ao doutrinar nossos sentimentos
para lidar com as situações de conflito, aprendemos a nos conhecer, a tomar
ciência dos nossos limites. Se houve um aprendizado que vamos levar para toda
nossa vida é esse: a maturidade emocional que adquirimos.
Aquela ponte, meus caros, que parecia
impossível e interminável está acabada. Apesar dos percalços e de todas as
dificuldades construímos e chegamos ao outro lado. Somos técnicos em química.
Seremos os melhores técnicos em química que pudermos. Seremos engenheiros,
químicos industriais, bacharéis, petroleiros, professores, médicos,
economistas, físicos, oceanógrafos, geólogos, farmacêuticos e tantas outras
coisas que nem imaginamos agora. Milhares de outras pontes começarão se é que
já não começaram na verdade.
Não importa. O que importa essa noite
pra mim é lembrar que hoje não sou o que era. E daqui há 5, 10, 15, 20 anos,
quando vir uma foto dessa noite também não seremos mais os mesmos. Quem sabe
algum dia não nos encontramos e, com uma outra mentalidade, não rimos dos
conflitos e das confusões? A montanha que nos separa hoje, pode, daqui a alguns
anos, parecer nada além de um montinho de sujeira. Ou pode permanecer uma
montanha. Mas as lembranças dos 4 anos e o rosto de cada um de nós agora ficará
marcado para sempre, junto com as lembranças que levaremos dessa instituição,
que podem ser boas, ou ruins, mas certamente foram intensas.
E pronto! Afinal de contas, não valeu a
pena?