Colação - Discurso do Orador

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

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Depois de um tempo, decidi postar aqui o discurso de formatura da minha "turma" no CEFETEQ. Tura Marie Curie. Sinto saudades, MUITAS. De verdade. Apesar de tudo.
Ah, o discurso não fiz sozinho, teve a ajuda brilhante do Renato. Mais que amigo, um irmão.

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Nós nunca fomos uma turma unida, ou pelo menos nunca nos consideramos como tal. Turma, pelo menos para mim, remete a uma idéia de união, companheirismo, família talvez, paz... E vamos concordar: passamos um pouco longe disso.
Procurando justificativas, podemos culpar nosso começo nas TM’s, o muro formado no início da QM381, lado A, B, C, D... ou talvez nosso próprio egoísmo natural, visceral, inerente a qualquer ser humano (por que pensar em 25 se posso pensar apenas em mim?). Mais fácil ainda, poderíamos culpar algo inexplicável, além do nosso controle, dizendo que, simplesmente, somos pessoas “incompatíveis”. Bem no fundo, sabemos que isso tudo é história pra inglês ver: nossa “turma” é formada por pequenos grupos de pessoas que se dão muito bem, e/ou tem uma desavença em comum, tanto faz.  Esses grupos, sempre que possível, viviam isolados, para evitar conflitos, mas quando eram forçados a um contato direto...
Cadeiras voando durante provas, práticas que mais pareciam lutas de vale tudo no laboratório, quase ameaças de morte para decidir quando faríamos síntese, ou naquelas discussões acaloradas sobre questões extremamente importantes como se o trabalho ia ser entregue hoje ou amanhã. Discussões intermináveis sobre trabalhos, provas, professores, greve, relacionamentos, futebol, religião, política, diploma, declaração, estágio... TUDO e qualquer coisa era motivo de polêmica.
Então como escrever um discurso para uma turma que não existiu, enquanto grupo único de pessoas em convivência harmoniosa?
A nossa “turma”, era uma “turma” criada na individualidade de cada um de nós. Seria falso representar a identidade da QM381-2011.2 como outra coisa, senão representando a identidade de cada aluno com sua qualidade, imperfeição e interesse do seu grupo. Essa heterogeneidade e o fluxo de pessoas entre os grupos, geraram uma instabilidade tamanha, que já fomos considerados uma ótima turma de Química da Federal e, no minuto seguinte, a pior turma que nunca, jamais, em hipótese alguma deveria ter cruzado os portões de entrada da instituição – e isso milhões de vezes sucessivamente!
No entanto, nem tudo são espinhos em nosso caminho. De alguma maneira bizarra e desconhecida, essas 25 almas guardam entre si uma relação literalmente entre tapas e beijos. Por algum motivo durante alguns momentos específicos, todo o rancor parecia desaparecer como uma nuvem e vivíamos ótimos momentos em grupo, em harmonia. Lembram das viagens de ônibus, regadas à farra e diversão, como à Heineken? E as semanas de química, seus preparativos, frustrações e alegrias? Lembram-se das brincadeiras e ironias durante as aulas? E aquele épico dia de seminário de síntese, que a turma toda vibrava em uníssono com aquele excitante joguinho do unicórnio robótico, enquanto o Fred e o Daniel não chegavam? Tivemos momentos ruins, momentos muito ruins, momentos horrivelmente péssimos, mas tivemos momentos bons.
O fato é que junto com a transformação do CEFETEQ em IFRJ, nós nos transformamos. O “Bruno” que existia há 4 anos atrás não é o que vos fala hoje. E creio que nenhum de nós é. A luta, o tempo, o sofrimento, a realização, o crescimento, todos de alguma maneira nos engrandeceram ao longo dessa jornada, sendo como pequenos tijolinhos para construção da nossa ponte. Há um tempo, percebi que viver é isso, apenas isso: se você passa por algo e percebe que mudou, que um aprendizado foi imposto, é porque cresceu, e mais do que isso: se cresceu, valeu a pena.
É claro que eu desejaria ter tido uma turma unida, firme e estável, mas sinceramente não acho ruim toda essa confusão e instabilidade. Além de várias histórias pra contar, de experiências únicas (aposto que pouquíssimas pessoas viram uma carteira da sua sala sair voando em direção a um colega), crescemos enquanto indivíduos. Ao doutrinar nossos sentimentos para lidar com as situações de conflito, aprendemos a nos conhecer, a tomar ciência dos nossos limites. Se houve um aprendizado que vamos levar para toda nossa vida é esse: a maturidade emocional que adquirimos.
Aquela ponte, meus caros, que parecia impossível e interminável está acabada. Apesar dos percalços e de todas as dificuldades construímos e chegamos ao outro lado. Somos técnicos em química. Seremos os melhores técnicos em química que pudermos. Seremos engenheiros, químicos industriais, bacharéis, petroleiros, professores, médicos, economistas, físicos, oceanógrafos, geólogos, farmacêuticos e tantas outras coisas que nem imaginamos agora. Milhares de outras pontes começarão se é que já não começaram na verdade.
Não importa. O que importa essa noite pra mim é lembrar que hoje não sou o que era. E daqui há 5, 10, 15, 20 anos, quando vir uma foto dessa noite também não seremos mais os mesmos. Quem sabe algum dia não nos encontramos e, com uma outra mentalidade, não rimos dos conflitos e das confusões? A montanha que nos separa hoje, pode, daqui a alguns anos, parecer nada além de um montinho de sujeira. Ou pode permanecer uma montanha. Mas as lembranças dos 4 anos e o rosto de cada um de nós agora ficará marcado para sempre, junto com as lembranças que levaremos dessa instituição, que podem ser boas, ou ruins, mas certamente foram intensas.
E pronto! Afinal de contas, não valeu a pena?

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