Carnaval

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

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Em algum lugarzinho escuro e úmido do meu subconsciente, duas figurinhas caricatas conversavam entre si. Um, era um velho um tanto turrão, mas bondoso e carismático, cujo nome era Personalidade. Vivia sentadinho em sua cadeira cativa em algum dos meus lobos pariento-supero-diastero-frontais ou coisa do tipo, coberto com um daqueles cobertores grossos, de modo que não posso dizer sua roupa. O outro era um jovem daqueles bem definidamente jovens: bermudão estilo praia, com uma camiseta combinando razoavelmente, cabelos úmidos com gel e um cheiro de banho recém-tomado constante. Seu nome era id... É, Id, nome estranho, mas fazer o que? Culpe Freud...
ID, com uma daquelas máscaras tipicamente carnavalescas se aproximou do seu Personalidade, que estava quieto em seu canto-cadeira-cativa e lhe perguntou:
- E aí, vovô?! Curtiu bastante o carnaval?
- Claro que sim, BASTANTE!
- Oba! Assim que é bom, sair nos blocos, pegar todas as meninas, gritar MUITO!!
- É, bem, não é por aí não...
- Ora, como assim? Você não disse que tinha curtido o carnaval??
- É, curti, mas à minha maneira...
- Então você não pegou todas as meninas, conheceu gente nova??
- Bom, não. Mas tive bastante tempo pra aproximar mais os laços que já possuía com as pessoas que me fazem muito bem. Conheci mais sobre suas histórias, compreendi mais seus dramas e seus sorrisos, aprendi a ler seus olhares. Passei momentos que ficarão marcados por um bom tempo na minha memória com eles, ótimos risos...Enfim, vivi melhores momentos e novas experiências com velhos amigos.
- Mas e os blocos, ou o desfile? Todo mundo que vai curtir o carnaval tem que sair pra festas e esses lugares!!
- Não, não passei o carnaval rodeado de gente em festas ou nada do tipo. Mas fui bastante à praia, entrei no mar e fiquei lá por algum tempo. Menos do que eu queria, talvez, mas não matei minha mãe à grito, nem meu pai à porrada, no próximo carnaval fico mais tempo por lá (aliás, esta expressão mesmo aprendi com os velhos amigos em novos momentos)... Enfim, não fiquei nesses lugares, mas fiquei mais junto à natureza, conheci mais sobre a Terra onde piso, e descobri que o morro que eu achava ser alto, não era tão alto assim, e que a, que eu julgava cerrada e inacessível, na verdade deve possuir alguma trilha, pois tem uma casinha lá no alto...
- Mas você estava solitário!!
- Jamais! Como disse, estava com as pessoas mais especiais pra mim. E, enfim, mesmo nesses momentos em que estava sozinho, contemplando a natureza, veja bem, não reclamo. Às vezes a gente precisa ficar sozinho pra ouvir aquela vozinha que fala com a gente lá no fundo, e pra admirar as mais belas paisagens... E bom, se a questão é ver pessoas, eu vi sim, percebi e obsevei-as bastante. Não gostei do que vi. Vi soberba, vi uma multidão de solitários unidos em busca de não-sei-quê, dando tiros no escuro em busca desse algo que nem eles mesmos sabem definir. Vi que o homem pode ser bem mal, ele pode gerar respeito das formas mais cruéis que se possa imaginar. Nem gosto muito de falar sobre essas minhas deduções, mas é fato que vi. Vi uma multidão de desesperados, destruindo a si mesmos em nome de uma festa, buscando alegrias engarrafadas e se humilhando por babagens. Vamos mudar de assunto?
- Ah, OK, não gosto também dos bêbados, mas vai dizer que você acha errado sair em blocos, pegar geral??
- De maneira alguma! Acho válido! Aliás, mais que válido! Se é isso que te faz feliz, então vá curtir desta maneira. Nem todos fazem parte daquela multidão de solitários! Alguns são apenas baladeiros curtindo a vida, bato palmas pra eles, de verdade, nada contra...
- Não entendo;. Voc~e acha que curtir o carnaval adoidado é bom, mas diz que curtiu i carnaval de outra maniera...
- Exato! Cada um tem um ritmo e um momento, e ele deve ser respeitado. Vi muita gente bebendo, pulando e gritando sem a mínima vontade de ali estar, como se fosse pura obrigação curtir o carnaval desta maneira. A folia está dentro de nós, e nós devemos curtir batante o carnaval, da maneira que nos fizer sentir melhor. Cada um tem a sua própria estrada para ser feiz, e usa de veículos diferentes dependendo das necessidades do momento.
E assim eles continuaram discutindo, mas agora sobre outras coisas, como a falta de memória dos velhos, a solidão dos jovens, sobre as paixões e prioridades na vida do homem...

É, acabou...

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É, acabou. Talvez o mais correto seria eu estar chorando, triste, em pânico, por encerrar uma rotina de quatro anos que, basicamente, definiu a minha vida. Deveria estar desesperado por confrontar uma nova rotina, sem a federal, como tudo que é novo causa na gente, mas não estou. Deveria estar me derretendo em lágrimas por não ver mais as pessoas com quem convivi por pelo menos três anos, mas, novamente, não estou. Estou normal. Se a escola tivesse acabado a um ano atrás, talvez eu estivesse assim, nesse espírito bucólico, saudosista. Afinal, guardo em algum lugar soterrado no lixo dos últimos períodos as lembranças da TM-121, a melhor turma que eu já vi no mundo, da felicidade nas aulas de ed. física jogando vôlei, e das fotos tiradas aleatoriamente a qualquer momento; as lembranças dos diversos laboratórios e das diversas aulas práticas, das aulas teóricas e das provas monstruosamente difíceis que me faziam estudar e instigavam a nossa inteligência; dos discursos de verdadeiros professores, que nos instigavam a refletir nosso papel na sociedade, a importância e o valor do raciocínio e de ser um ser pensante no mundo contemporâneo; dos projetos de semana de química, de síntese e de IC, que me faziam refletir, pensar, passar horas a fio na frente de uma bancada, ou andando de um lado pra outro, lendo, lendo e lendo, estudando, pensando, sendo picado por mosquitos e contando larvinhas em potinhos d'água e sendo enganado por elas.. Mas não. A imagem da escola se estragou em mim. Os três anos maravilhosos que ela me proporcionou estão escondidos em algum lugar nos confins da minha mente, pois a imagem mais urgente, mais aparente, é aquela do sofrimento do último ano, de ter de suportar horas e horas de aulas que eu não desejaria ter, com professores que não faziam a mínima ideia do que estava sendo dita. A imagem que fica na minha cabeça é essa, do desespero em que eu estive ao longo desse ano por estar aqui do lado de fora daqueles muros mal-protegidos e sem segurança. E, enfim, aqui estou, fora dos muros mal-protegidos e sem segurança! BINGO! Consegui, estou em ritmo de festa!Sei que em algum momento vou sentir saudades de conviver com algumas pessoas que me fizeram muito bem ali dentro, e com quem o contato se tornará mais raro, ou mesmo desaparecerá (digo de amigos e professores). Mas o fato de me ver livre daquele turbilhão de boçalidades me agrada e me faz tão bem que, por ora, estou um tanto extasiado para sentir essas coisas. Não vou forçar um clima pesaroso, triste e bucólico só porque isso é o que se espera de um fim de uma jornada, ou se um fim de federal. Não, estou MUITO, MUITO FELIZ. Há um ano, a federal deixou de ser um lugar que eu adorava passar minhas manhãs e tardes, para se tornar um lugar para o qual eu era forçado a ir à noite.Amigos, foi muito bom estar com vocês por perto ao longo desses 4 anos. Vocês foram muito importantes pra mim, mesmo, e em algum momento vou sentir muita saudade de vocês (aí pegarei o telefone e vamos marcar de nos vermos, fim de papo).. Professores amigos, sentirei também muita falta dos discursos, dos ensinamentos, da reflexão e do exemplo de vida. Sentirei falta do Larvicídio, pois foi algo que saiu de dentro da nossa cuca, e por fim foi reconhecido pela comissão da escola e da Febrace como algo útil. (CARAMBA! EU fiz algo útil na minha vida! =O). Sentirei falta sim, de cada ladrilho verde daquela escola, até o último grão de poeira mal-limpa que esteve pro lá até o sexto período.Afinal, o "tempo em que eu investi nesta rosa, fê-la muito importante pra mim".A estes, deixo esta última frase neste texto:"...Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..." Raposa - Pequeno príncipe - Capítulo XXI