Prisão de ventre

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Estou com uma prisão de ventre de criatividade. Todos os dias eu entro no blog, paro e penso, mas essa maldita tela branca funciona como uma espécie de trava psicológica, me deixa tenso, a criatividade parece não fluir. às vezes gostaria que ela fosse preta, ou azul, talvez fosse mais fácil. Acho que o azul é a cor que deixa a criatividade fluir, sei lá... Não consultei o Feng-Shui. Hoje, no entanto, resolvi que aqui entraria e faria minha sessão-psicólogo, não dando a mínima pra qualidade ou o que viesse a sair. Foda-se. Viu? EM situações normais eu não usaria um palavrão assim, solto, do nada. EU acho isso arte chula, uma facilidade de humor muito mesquinha. Os palavrões podem ser usados como ferramentas para o humor, mas se muito bem colocados.
Enfim, do que eu estava falando? Ah, sim, da minha prisão de ventre. Não vou ao banheiro desde domingo. Talvez por isso eu esteja hoje um tanto irritado. Acordei assim. Não sei exatamente porque, acho que um dia sem visitar o trono não pode causar tanto mal assim. O fato é que estou irritadiço. Olho pro facebook e ele me dá nojo. Olho pra minha mão e ela me dá nojo (isso talvez seja porque eu acabei de ariar uma panela tensa e ela esteja preta). Olho pro meu quarto e ele me irrita profundamente. Pra que tão branco, porque tão vazio e silencioso? Está faltando umas esculturas aqui e ali pra dar um clima mais decorativo. Falta também alguma arte na parede, nem que seja uma cor de contraste com o branco. E essa maldita cadeira que está desconfortável? ARGH estou um nojo hoje, não estou bom mesmo. Prefiro até evitar um certo contato humano pra evitar ferir alguém, mas na solidão acabo me fechando e me tornando cada vez mias chato. E começou de repente, estava muito bem, mais que bem bem bem na casa da minha avó hoje mais cedo. Talvez tenha sido o angu a baiana que eu comi. Me deixou meio sonolento. EU sou um porre com sono.
Enfim, não sei se é a prisão de ventre criativa, fecal ou se foi o angu. O fato é que estou estressado e irritadiço hoje, não sou a melhor companhia pra um papo casual hoje. Não sei porque. Pouco me importa. O dia está quase acabando mesmo...

Capítulo 1 de Pecado

terça-feira, 2 de agosto de 2011

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É, um desses projetos que a gente começa e o tempo não deixa a gente acabar...
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Estava tudo acabado. Era o fim do jogo. Era o fim de sua vida. Essa era a conclusão a que ele chegara assim que começara a correr pela floresta, pois não seria capaz de conviver com sua própria consciência após aquele dia. Definitivamente, estava tudo acabado, era só uma questão de aceitação.
Se não estivesse correndo tão rapidamente, provavelmente sua camisa estaria se movimentando, tamanha a intensidade das batidas que embalavam seu coração naquele momento. O vento soprava fortemente seu rosto, lhe tirando o ar, lhe gelando a face com sua frialdade digna da própria morte, que, aliás, parecia permear em sentido todas as dimensões daquela floresta, como um animal, cercando ao mesmo tempo feroz e calculadamente sua presa. E a presa corria. E corria rápido. Muito rápido. Seus pés, ao mesmo tempo em que impulsionavam fortemente o seu corpo, pareciam mal tocar o chão abaixo de si, como se o chão houvesse se tornado uma esteira rolante que girava rapidamente, fazendo com que os galhos secos, as folhas putrefatas e os pedaços de tronco caídos ao chão não passassem de borrões disformes, bem como toda a floresta ao seu redor. Constantemente os galhos mais afiados prendiam-se a sua jaqueta, rasgando-a em diversos pontos à medida que ele tentava desviar dos obstáculos rapidamente. Às vezes abaixava-se, às vezes era necessário pular um tronco caído, ou apenas desviar-se para o lado quando um galho se erguia em sua direção como dedos afiados e malignos, tentando prendê-lo ali naquele local. Tentando prendê-lo à floresta. Tentando prendê-lo à morte.
Sua respiração era ofegante, rápida, descompassada. Corria no meio do borrão disforme da floresta, sem saber aonde ir, nem onde estava. Corria no nada, em direção ao nada, um ponto perdido no espaço-tempo sem qualquer relação com um futuro mais distante que o próximo segundo. Ele não era nada naquele momento. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto estava encharcado pelas lágrimas que brotavam em seus olhos como uma mina de água, explicitando inúmeras características que faziam de seu rosto a perfeita representação da palavra desespero. Não o desespero vulgarizado pelo cotidiano: o desespero real, a sensação de que sua vida acabou, de que será impossível continuar, impossível prosseguir. O grande abismo do fim e encontra a milímetros de seus pés, e seu fundo é tão escuro, tão aterrador e tão indefinido...
Um grito ecoou pela floresta. Era um grito desesperado de dor, de agonia, vindo de algum lugar atrás dele. Pela intensidade do som, poder-se-ia dizer que a mulher que o proferia estava ao pé de seu ouvido, mas ele sabia que não: ela estava a muitos quilômetros atrás. Isso dava um tom ainda mais trágico à situação: ela gritava alto, muito alto. Provavelmente estava sentindo as piores sensações que jamais sentira antes, experimentando novos e refinados tipos de tortura física, psicológica, total. Seu grito era contínuo, mas desafinava com a intensidade ao longo do período. Ele era intenso, representava a dor, o desespero, o sofrimento e ao mesmo tempo a súplica implícita para o fim, o terrível e único fim possível. O fim de tudo, o fim da dor, o fim do sofrimento, simplesmente o fim. O grito o atingia fortemente. Continuava correndo, mas agora parecia que o aperto que já sentia no coração aumentara, tornara-se físico, real, como se aquele grito longo, agonizante fosse capaz de evocar uma mão demoníaca que apertava-lhe o coração com suas mãos ácidas. Suas lágrimas, que ele pensava ser impossível tornarem-se mais intensas, haviam triplicado com o grito continuado. Agora ele parecia estar suando em bicas, apesar do frio ártico que fazia ali fora, entre as árvores.
De repente, o grito cessou, quase tão abruptamente quanto ele começou. O grito parou, a mulher morrera. Morrera. Aquela constatação viera imediatamente. Era lógica. Era não só possível, como certa, definitiva e aterrorizantemente concreta. O fim do grito funcionara nele como o fim da energia para um aparelho robótico. Suas pernas diminuíram de ritmo, suas passadas se tornaram mais curtas, gradativamente. O desespero e a dor atingiram níveis tão extremos que passaram a se tornar demasiado intensos para sua mente. Antes, ela tentava registrar as sensações e o momento. Agora, ela estava vazia, oca, como se a floresta houvesse desaparecido juntamente com o grito, como se seus pés agora tocassem no nada. Ele estava perdido no vácuo, no escuro, no vazio da perda. Quando enfim suas pernas tentaram dar um último e derradeiro passo, sua estrutura fraquejou. Caíra de joelhos sobre uma pilha de folhas secas e gravetos apodrecidos. Suas mãos pendiam ao seu lado, como anexos mortos a um corpo que não mais tinha alma. O fogo que alimentava sua alma apagara, como se o vazio e o silêncio triste da floresta fossem um sopro frio de morte sobre a chama da vida. Seu corpo vazio pendera como um animal abatido ao chão. Estava tudo acabado. Era o fim da vida dela, e era tudo sua culpa. Tudo!
A constatação chegou ao seu coração como se a mão demoníaca que ali estava desse seu golpe final: apertara-o com tanta intensidade que seu coração desistiu de tentar resistir. Parou, cansado de lutar, cansado de tentar. O sangue se esvaiu de seu rosto como se fosse drenado por um tubo aos seus pés. Como último pensamento, estava lá o remorso que o corroia, que o destruía por dentro. Era culpa sua.
Uma última lágrima desceu de um de seus olhos, já cegos pelo véu da morte. Cegos pelo véu de muitas mortes.

E o dia amanheceu em paz...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

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DJCTQ - 14.svg Não recomendado para menores de 14 anos, por conter implicitamente tudo aquilo que você já sabe e vê no redtube quando seus pais vão dormir, mas os moralistas acreditam que você não deveria ser exposto.

O barulho do falatório das pessoas descendo as escadas do prédio, prontas para a labuta diária, o fez sensibilizar para o sol que aquecia mansamente o lado esquerdo de seu rosto enquanto ele dormia. Em sua boca, aquela sensação engraçada de que a saliva tornou-se duas vezes mais pastosa que o normal, e o inexplicável hálito de temperos acentuadamente fortes. Seus olhos tentaram abrir-se, mas a desagradável agressão dos raios solares às suas pupilas fizeram reacender sua dor de cabeça, como uma pequena faísca desencadeia uma grande explosão. E foi somente quando a pontada afiada da dor atingiu o topo interno de sua cabeça, onde quando criança jazia sua moleira, que ele se deu conta de que aqueles passos não eram de sua vizinhança,e que aquela cama onde ele se deitava não era a dele, nem os edredons que faziam seu corpo suar e que aquele peso incômodo sobre seu abdome era nada menos que uma perna.
Seus olhos abriram-se rapidamente, o surto de adrenalina fazendo-o ignorar a pontada violenta no topo de sua cabeça. Havia uma mulher ao seu lado. Uma linda morena de seios e pernas firmes, que jaziam expostos à fina claridade da luz do sol. Sua pele era de um branco bronzeado, que contrastava com o negro das cobertas que lhe atingiam apenas o baixo ventre.
Sua cabeça girava e seus pensamentos não se conectavam uns aos aoutros, para formarem uma linha lógica. Efeito, provavelmente, das diversas garrafas de vinho tinto e martini que salpicavam, vazias, o chão morno de tábua corrida brilhosamente encerada. O rádio, como na tentativa de dar-lhe alguma pista sobre o ocorrido na noite anterior,tocava ao som ambiente uma valsinha que dizia:

"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
E olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era o seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto,
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar..."

SIm, era verdade... Ele se lembrava agora... Seu nome era Miguel, e vivia no auge de seus 30 anos, 18 dos quais destinados ao celibato. Era o responsável pela paróquia de uma cidadezinha do interior de Minas. Mas... O que estava fazendo ali, nu, ao lado daquela muljer e rodeado por tanta bebida?
Sim... Na noite passada... Como todas as outras noites... Aquela menina foi se confessar... Sua voz angelical e delicada contava ao padre, através da parede do confessionário, as atrocidades de uma mulher da pior estirpe. Contava a ele com detalhes os últimos acontecimentos de sua vida voluptuosa e luxúria e pecados. Das primeiras vezes,ele sentira-se enojado com a morena, e olhava-a com a pena de alguém que vê uma alma perdida nas amarras da tentação e do desespero,enrolando-se cada vez mais nas garras do mal. No entanto, à medida que ela prosseguia com sua rotina, as histórias já eram esperadas por ele. Portanto, ele não mais se chocava com o horror da situação: o que lhe chocava eram os detalhes sórdidos por ela entoados. Em sua mene,ele ia criando as imagens da cena de horrores por ela descrita, sempre na qual ela era cercada por homens ávidos por prazer a qualquer custo.
Á medida qu o tempo passava, as histórias da morena despertavam em Miguel sentimentos esquecidos,sedimentados no fundo de sua mente por anos de castidade. Sentia novamente aquela sensação estranha percorrer-lhe a espinha ao imaginar a morena nua, no ato sexual. O prazer proibido era, a todo custo,combatido por Miguel, que se punia todas as noites pela consciência do prazer que sentia em suas histórias, em sua voz.
Mas a força do instinto animal era muito intensa, intensa demais para a nobreza da castidade espiritual. E na noite anterior, com uma história das mais picantes, a morena conseguiu o que queria: Miguel se rendeu à tentação.
O padre saiu do confessionário e sentou-se nas cadeiras da igreja. Seus olhos estavam aflitos em lágrimas suas mãos agarravam-se à cabeça no furor do desespero. Seus pensamentos, perdidos em um turbilhão de ideias e valores,que se chocavam em algum lugar da sua psique,destroçando seu espírito. Sentiu um toque suave por cima de sua bata,na altura do ombro. As mãos delicadas da morena desciam-lhe pelas costas em um carinhoso afago e subiam pela região frontal de seu torax, em um abaraço delicado. Sua respiração suave e com aroma adocicado foi sentida no ouvido do Miguel, lhe dizendo que "Estava tudo bem...". Não, não estava tudo bem. E Miguel sabia disso. Mas não havia como controlar os arrepios que lhe subiam pela esinha a cada movimento da morena. Não havia como controlar seus pensamentos e não havia como controlar a excitação que lhe explodia em seu íntimo. Não houve, também,como controlar o beijo que lhes consumiu a seguir em paixão. Suas bocas encontravam-se com volúpia, com desejo, com ardor. As lágrimas ainda caima dos olhos de Miguel em um desespero afoito,como uma última parte consciente naquele corpo tomado pelas forças da sedução.

"E então ela se fez bonita como há muito tempo não se ousava usar
Com seu vestido decotado cheirando a gaurdado de tanto esperar
E então os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
E começaram a se abraçar..."

As lágrimas desciam agora pesarosas pelo rosto de Miguel, caindo sobre seu peito nu. Estava sentando naquelas tábuas do soalho, os braços em torno dos joelhos numa atitude infantil de proteger-se da realidade que lhe invadia os sentidos. Como pudera render-se àquele ponto? Como pudera chegar tão baixo? Como pudera jogar fora todos aqueles anos de celibato,como pudera dispensar o compromisso com o divino pelo puro prazer carnal?
Levantou-se vagrosamente, sentindo seus genitais penderem livres, expostos a frente daquele corpo nu, daquela jovem que dormia um sono tranquilo. Sentiu-se sujo, sentiu-se corrompido, sentiu-se o pior dos homens. Caminhou o mais distante possível daquele corpo que era a prova de sua corrupção. Mas o pior era a sensação de ter sido ludibriado pelas artimanhas da carne... A genialidade dos jovens...

"E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais..."

Estavam já subindo as escadarias daquele lugar sujo e mal iluminado. Os risinhos infantis surtiam em Miguel um efeito hipnótico, que parecia manter nele o transe e a excitação daquela transgressão. Alcançou-a no meio da escada, e, segurando-a por trás firmemente, sugou-lhe violentamente o pescoço. O som do prazer emitido pela menina so fez aumentar-lhe o desejo,a volúpia. Entraram afoitos porta adentro, mal se preocupando em trancá-la novamente. Uma vez dentro do apartamento, a menina ofereceu-lhe uma taça de vinho, que tomou sem nem pensar. Duas, três, um martini. E então seu organismo cedeu ao álcool e às drogas que provavelmente estavam ali misturados. E dali em diante não havia mais recordações claras e nítidas. Tudo foi um borrão de pecado, ira e agressão. Lembrava-se de despi-la com violência e desejo, e lembrava-se do toque suave de sua boca doce experimentando-lhe o íntimo. Fizera o mesmo. Lembrava-se,mais a frente, de deitar-se por sobre o corpo dela, agarrando-lhe animalescamente o pescoço, enquanto saciava seus desejos escondidos com seu corpo. Lembrava-se mais a frente de uma onda de prazer nunca antes sentida, e então não se lembrava de mais nada.
(...)
Agora ele estava ali, sentado com as costas apoiadas à porta. A menina, após muito tempo, abriu os olhos. Levantou-se. Espreguiçou-se vagarosamente, com o olhar fixo sobre o corpo nu de Miguel. Um sorriso torto preenchia seus lábios. Sem reitrar os olhos do rapaz,ela pegou o lençol que forrava a cama e caminhou até ele, com suas pernas delineando maliciosamente cada passo. Jogou por cima do corpo dele o lençol, deu-lhe uma piscadela maliciosa e, rindo abertamente, encaminhou-se para seu banheiro.
Miguel ficou ali, parado. Enquanto as lágrimas desciam de seus olhos em um choro que convulsionava todo seu corpo, suas costas sentiam o frio da porta, e o corpo o toque suave do algodão alvíssimo manchado com o sangue da virgindade e da inocência que Miguel tomara da menina na noite anterior.
"E o mundo compreendeu.
E o dia amanheceu
Em paz."

Adeus

sexta-feira, 1 de julho de 2011

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"Feche os olhos e pense na melhor coisa do mundo", foi o que ele disse a ela. Os dois estavam num lugar público, movimentado, mas ela assim o fez. Fechou os olhos e pensou. Ele então aproximou-se devagar, segurou em suas mão e chegou bem próximo a seu rosto. Suas respirações quentes encontravam-se, sufocando-os de leve com aquela ansiedade que antecede o momento.
"Agora me beija, e pensa melhor a respeito do que você acha ser a melhor coisa do mundo..." E ela abriu os olhos, momentaneamente aflita com a surpresa. Ele, sem falsos pudores ou vergonhas hipócritas a beijou. Um beijo molhado, um beijo quente, cheio de ternura e sensualidade. Suas línguas acariciavam-se com amor, ou invadiam-se ferozmente, com paixão, ou, na maior parte do tempo, nem mesmo estavam presentes, apenas suas bocas se agasalhavam num beijo calmo e amoroso. Se afastaram por um momento, como que para puxar o ar novamente, e ele a beijou no pescoço, sentindo que por ela e por ele passava o mesmo arrepio subindo a espinha, chegando à cabeça, cegando seus pensamentos, liberando as amarras da consciência e mergulhando os dois em um universo alternativo onde nada mais importava no mundo. Apenas ele e ela, ali, beijando-se. Amando-se. Tornaram a se beijar.
Após um tempo que poderia ser uma eternidade, ou meramente alguns segundos, os dois apoiaram-se nas testas e olharam-se, abraçados. Enquanto ele e ela sentiam um o coração do outro, ou o movimento dos abdomes durante a respiração calma, lenta e suave, seus olhos sentiam cada pensamento um do outro. Estavam conectados por uma ligação muita intensa: o olhar. E através daquele olhar, ele viu a tristeza nos olhos dela, o saudosismo. Ela, viu nele a esperança, a coragem e a vontade de viver. Mas era demais pra ela, ela simplesmente não podia se render à aventura.
E então ela deu-lhe um beijo rápido. E se afastou, caminhando vacilante para a saída do lugar. Ele, ficou ali, olhando para ela, uma lágrima descendo de seu olho, ainda fitando a ausência e seu amor a sua frente.

Sobre pais, filhos e o mar

domingo, 26 de junho de 2011

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Tive dengue. Tive sono. Estou com tédio.
Além de tudo isso, uma pequena imagem, como se fosse um pequenino trecho de uma cena, não sai da minha cabeça.

"É sobre um pai e seu filho, que sobem por uma espécie de colina a beira-mar, sentindo sob seus pés descalços o frio e a maciez de um gramado bem cuidado. Se chegarem na beirada da colina gramada, verão o mar lá em baixo, rebentando com certa truculência sobre as pedras limadas em uma espécie de praia inacessível a qualquer ser humano. Mas eles não irão na beira da colina. Eles prosseguem subindo, distantes da borda, apenas vislumbrando, imaginando como seria o mar lá em baixo pelo barulho das ondas, e pelo cheiro da maresia.
O sol se põe, e o pai segura firmemente a mão direita do seu filho, com a sua mão esquerda. A pele dele é diferente da sua, pois é macia e juvenil. A criança olha pro pai, que diz:
"Não se aproxime da borda, pode ser perigoso."
A criança olha pra ele, um brilho no olhar. Vislumbra ali seu pai, seu guia, seu mestre, seu modelo, seu exemplo, quase um herói de suas histórias infantis.
"Não irei papai. Ficarei longe da borda. Ficarei junto a você."
E os dois continuam seu caminho. Lá no alto, uma igrejinha os espera. Não vão pra missa ou algo do tipo. Eles vão ali se sentar num banquinho de madeira carcomido pela erosão do vento e verão dali do alto o sol se escondendo por trás do veludo brilhantemente azul do mar. Talvez os dois se abracem."

Sobre a solidez das casinhas de sapê

sábado, 23 de abril de 2011

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Por volta de 1808, John Dalton propunha seu modelo atômico, no qual ele propunha que os átomos seriam pequenas esferas indivisíveis, como minúsculas bolas de bilhar. No entanto, mais tarde, em 1897, Joseph Thompson percebeu que, na verdade, existiam partículas menores que o átomo, que faziam parte de suas estruturas, e, além disso, disse que essas partículas seriam eletricamente carregadas. Ele propôs seu modelo atômico, então, no qual o átomo seria como uma massa de carga positiva, na qual haveriam pequenas esferas com cargas negativas inscrustadas (conhecido como modelo do pudim com passas). Mais tarde, no entando, ao disparar partículas subatômicas contra uma placa de ouro muito fina, Rutherford percebeu que a maioria das partículas transpassava a placa, enquanto algumas pouquíssimas refletiam e outras se desviavam. Desse modo, ele propos que, na verdade, a maior parte do átomo seria composta de NADA, vácuo absoluto, propondo que haveria um núcleo positivo, ao redor do qual girariam os elétrons, cargas negativas. Seu modelo foi complementado por Bohr, que começou a unir a teoria quântica, prpondo órbitas de energias quantizadas, e depois outro caras como Erwin Schrödinger, Louis Victor de Broglie e Werner Heinsenberg introduiziram de vez a mecânica ondulatória e a teoria quântica, propondo o modelo atômico probabilístico.
Analisando toda essa reviravolta científica, e como um iniciante no meio da ciência, não posso deixar de perceber que quanto mais pesquisamos sobre a natureza, menos sabemos dela. Ou melhor: mais sabemos que pouco conhecemos sobre suas verdades. E tudo o que conhecemos, na verdade, se baseia em aproximações feitas pois, bem no fundo, o conhecimento matemático atual que possuímos se mostra incapaz de calcular as equações a que nosso modelo chegou (o modelo probabilístico de que falei). Em resumo, somos incapazes de concluir acerca de nossas hipóteses, vagamos atualmente no reino incerto da probabilidade e da estatística, servos de modelos computacionais e aproximações vagas. Aproximações que funcionam, que dão resultado, mas que, em sua essência, são vagas e imprecisas. Para que vocês tenham uma ideia, a tabela periódica atual conta com mais de 250 elementos, dos quais só conseguimos solucionar as equações e compreender perfeitamente 1! Sim, 1, o hidrogênio, o primeiro deles! E o máximo que podemos fazer é dizer que todos eles se comportam da mesma maneira, como átomos hidrogenóides. Sei que até o momento isso funciona, mas não me sai da cabeça a imagem de que eu estou dizendo que um elefante caminha pela uruguaiana da mesma maneira que uma pequena formiga!
O que quero dizer é que a ciência funciona dessa maneira: a cada passo que damos na direção do conhecimento mais profundo da natureza, mais nos perdemos em aproximações e considerações: mais nos tornamos incapazes de conceber. Talvez seja porque deve ser assim: talvez não devamos compreender tão perfeitamente a natureza. Talvez sua face deva ser eternamente recoberta pelo véu da incerteza, cada vez mais fino, cada vez mais instigantemente próximo da imagem real.
Não sei ao certo o que isso significa, mas acredito que seja uma grande brincadeira do criador. Talvez, a natureza seja mais uma peça do tipo "Vinde até mim as criancinhas", na qual cada vez que tentamos desvendá-la racionalmente, nos deparamos com um obstáculo, uma impossibilidade. Somente compreendem a natureza perfeitamente os observadores e admiradores, justamente aqueles que não se preocupam em compreendê-la. Para mim, a natureza não deve ser compreendida. Todo seu engenho, toda sua complexidade foi criada da maneira exata para impossibilitar qualquer compreensão mais profunda acerca de seus mecanismos, e "limitar-nos" à mais pura e bela contemplação, observação e admiração. Nesse ponto, não importa quem sabe mais, mas sim aqueles que sabem olhar para a natureza com o olhar de uma criança, inocente, admirado com as menores belezas, estagnados frente à sua magnitude e vibração.
Em constraste à incerteza da ciência, vejo a firmeza e estabilidade da religião. Há quem tente juntar as duas, há quem tente separá-las: acredito que elas devem ser encaradas de maneira diferente. A ciência se encara pela razão. A religião, com o coração, com o sentimento. Não há como se racionalizar a religião, e é isso que a torna tão estável, tão eterna: a religião se fundamenta na fé, e não na razão. E não há como se racionalizar a fé, não há como se por a fé à provas, pois a fé verdadeira não precisa de provas. Enquanto isso a ciência, por mais concreta que pareça, é frágil, pois se fundamenta na razão, e a razão necessita de provas e provas podem ser desmentidas (como no caso do modelo atômico).
Sou químico e umbandista. Amo a ciência na qual eu estudo e trabalho, acho linda, sinceramente. Mas tenho a completa noção de que ela é limitada, ela se tolhe aos limites da razão e, por mais concreta e absoluta que ela pareça ser, sei que no fundo é só aparente, e que estudo algo extremamente incerto, duvidoso e impreciso. Não sou um daqueles fanáticos religiosos, vê a religião em todos os pontos da vida. Não. Vejo em bastante pontos, sempre lado a lado com minha ótica científica. Dependendo do caso, ajo da maneira que mais for conveniente.
Enfim ,já falei demais, pra finalizar, tenho um ponto cantado lá no centro que resume bastante o que disse acima.
"Construí uma casa tão linda
Com tijolo, cimento e vergalhão.
Mas bateu chuva, bateu vento
E jogou tudo no chão.
Mas bateu chuva, bateu vento
E jogou tudo no chão.
Vovô Firmino me ensina
O que eu devo fazer?
Pois o vento não derruba sua casa de sapê
Ô, tem dendê. Tem dendê, tem dendê
Tem dendê na sua casa de sapê."

Away

terça-feira, 19 de abril de 2011

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Tu-du-du
Chua-chua
Chic chic
Tlim Tlim
Sssss sssss
Trilim trilim
iééééééééé
Vruuuuum Tssss
E tudo fez-se silêncio, pois dormi no ônibus.

Eu e você

domingo, 3 de abril de 2011

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E vamos estar nós dois, debaixo do edredom macio e quente, e sentiremos aquele calafrio gostoso por baixo da espinha quando nossos corpos aquecidos se encontrarem, pois você me abraçará o peito. Sua respiração cálida será sentida pelo meu pescoço, quando sua cabeça se encaixar perfeitamente no vão entre meu ombro e minha cabeça, me causando nova onda de calafrios.
Súbito, nos levantaremos e caminharemos toda aquela estradinha de terra deserta e somente iluminada por alguns postes aqui e ali, descalços e abraçados, sentindo a brisa gelada bater em nossos narizes, tornando-os imensamente gelados. Chegaremos a uma praia, deserta e absolutamente escura, e não conseguiremos enchergar nem mesmo um dedo à nossa frente. Mas curiosamente veremos algo muito mais distante, que é o reflexo da luz das estrelas no mar revoltoso. Nos sentaremos então na areia gelada e úmida, e deitaremos ali, meu braço abaixo de sua cabeça. Veremos as estrelas brilhando no céu como cotões brancos em uma malha negra intensamente negra. Falaremos que da cidade não conseguiríamos ver tamanho espetáculo de beleza natural, riremos e ficaremos ali, deitados numa praia deserta e escura, admirando as estrelas, ouvindo o barulho hipnótico das ondas quebrando na beira da praia. Talvez meu braço que apoia sua cabeça encoste ao seu, e minha mão segure a sua, fazendo um carinho leve com meu polegar. Talvez nos beijemos, e, por fim, nos deixaremos levar pelo som das ondas e vamos dormir. Dormir e sonhar conosco alcançando as estrelas, pulando de uma a outra como o pequeno príncipe. E vamos nos beijar na estrela mais bonita, que ainda não foi tomada pelos imensos baobás.

Sobre os dois eus

sábado, 2 de abril de 2011

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Estive pensando por estes dias o quanto estou dramático. Analisando as últimas postagens que tenho feito, venho percebendo que, cada vez mais, minha vida estava se tornando um poço de saudosismo e tristeza. Não sei exatamente porque, mas contra fatos não há argumentos tão bons (porque é óbvio que sempre há argumentos para qualquer coisa na vida). Agora, por algum motivo, olho pra tudo isso com certa curiosidade, como se aquele ser do passado, depressivo, irritadiço e atolado em mágoas fosse digno de pena.
Não sei se foi o fato de eu ter crescido, de estar feliz profissionalmente, de estar praticando minha religião ou se foi simplesmente o passar do tempo, mas o fato é que estou feliz, muito feliz, radiante de felicidade. Não, fiquem calmos, não vou começar a postar coisas coloridas, pôr calças coladas e cantar Restart, ainda sou o mesmo Bruno em essência, mas o que mudam são os pequenos detalhes da personalidade. Pequenos grandes e determinantes detalhes da personalidade.