Sobre a solidez das casinhas de sapê

sábado, 23 de abril de 2011

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Por volta de 1808, John Dalton propunha seu modelo atômico, no qual ele propunha que os átomos seriam pequenas esferas indivisíveis, como minúsculas bolas de bilhar. No entanto, mais tarde, em 1897, Joseph Thompson percebeu que, na verdade, existiam partículas menores que o átomo, que faziam parte de suas estruturas, e, além disso, disse que essas partículas seriam eletricamente carregadas. Ele propôs seu modelo atômico, então, no qual o átomo seria como uma massa de carga positiva, na qual haveriam pequenas esferas com cargas negativas inscrustadas (conhecido como modelo do pudim com passas). Mais tarde, no entando, ao disparar partículas subatômicas contra uma placa de ouro muito fina, Rutherford percebeu que a maioria das partículas transpassava a placa, enquanto algumas pouquíssimas refletiam e outras se desviavam. Desse modo, ele propos que, na verdade, a maior parte do átomo seria composta de NADA, vácuo absoluto, propondo que haveria um núcleo positivo, ao redor do qual girariam os elétrons, cargas negativas. Seu modelo foi complementado por Bohr, que começou a unir a teoria quântica, prpondo órbitas de energias quantizadas, e depois outro caras como Erwin Schrödinger, Louis Victor de Broglie e Werner Heinsenberg introduiziram de vez a mecânica ondulatória e a teoria quântica, propondo o modelo atômico probabilístico.
Analisando toda essa reviravolta científica, e como um iniciante no meio da ciência, não posso deixar de perceber que quanto mais pesquisamos sobre a natureza, menos sabemos dela. Ou melhor: mais sabemos que pouco conhecemos sobre suas verdades. E tudo o que conhecemos, na verdade, se baseia em aproximações feitas pois, bem no fundo, o conhecimento matemático atual que possuímos se mostra incapaz de calcular as equações a que nosso modelo chegou (o modelo probabilístico de que falei). Em resumo, somos incapazes de concluir acerca de nossas hipóteses, vagamos atualmente no reino incerto da probabilidade e da estatística, servos de modelos computacionais e aproximações vagas. Aproximações que funcionam, que dão resultado, mas que, em sua essência, são vagas e imprecisas. Para que vocês tenham uma ideia, a tabela periódica atual conta com mais de 250 elementos, dos quais só conseguimos solucionar as equações e compreender perfeitamente 1! Sim, 1, o hidrogênio, o primeiro deles! E o máximo que podemos fazer é dizer que todos eles se comportam da mesma maneira, como átomos hidrogenóides. Sei que até o momento isso funciona, mas não me sai da cabeça a imagem de que eu estou dizendo que um elefante caminha pela uruguaiana da mesma maneira que uma pequena formiga!
O que quero dizer é que a ciência funciona dessa maneira: a cada passo que damos na direção do conhecimento mais profundo da natureza, mais nos perdemos em aproximações e considerações: mais nos tornamos incapazes de conceber. Talvez seja porque deve ser assim: talvez não devamos compreender tão perfeitamente a natureza. Talvez sua face deva ser eternamente recoberta pelo véu da incerteza, cada vez mais fino, cada vez mais instigantemente próximo da imagem real.
Não sei ao certo o que isso significa, mas acredito que seja uma grande brincadeira do criador. Talvez, a natureza seja mais uma peça do tipo "Vinde até mim as criancinhas", na qual cada vez que tentamos desvendá-la racionalmente, nos deparamos com um obstáculo, uma impossibilidade. Somente compreendem a natureza perfeitamente os observadores e admiradores, justamente aqueles que não se preocupam em compreendê-la. Para mim, a natureza não deve ser compreendida. Todo seu engenho, toda sua complexidade foi criada da maneira exata para impossibilitar qualquer compreensão mais profunda acerca de seus mecanismos, e "limitar-nos" à mais pura e bela contemplação, observação e admiração. Nesse ponto, não importa quem sabe mais, mas sim aqueles que sabem olhar para a natureza com o olhar de uma criança, inocente, admirado com as menores belezas, estagnados frente à sua magnitude e vibração.
Em constraste à incerteza da ciência, vejo a firmeza e estabilidade da religião. Há quem tente juntar as duas, há quem tente separá-las: acredito que elas devem ser encaradas de maneira diferente. A ciência se encara pela razão. A religião, com o coração, com o sentimento. Não há como se racionalizar a religião, e é isso que a torna tão estável, tão eterna: a religião se fundamenta na fé, e não na razão. E não há como se racionalizar a fé, não há como se por a fé à provas, pois a fé verdadeira não precisa de provas. Enquanto isso a ciência, por mais concreta que pareça, é frágil, pois se fundamenta na razão, e a razão necessita de provas e provas podem ser desmentidas (como no caso do modelo atômico).
Sou químico e umbandista. Amo a ciência na qual eu estudo e trabalho, acho linda, sinceramente. Mas tenho a completa noção de que ela é limitada, ela se tolhe aos limites da razão e, por mais concreta e absoluta que ela pareça ser, sei que no fundo é só aparente, e que estudo algo extremamente incerto, duvidoso e impreciso. Não sou um daqueles fanáticos religiosos, vê a religião em todos os pontos da vida. Não. Vejo em bastante pontos, sempre lado a lado com minha ótica científica. Dependendo do caso, ajo da maneira que mais for conveniente.
Enfim ,já falei demais, pra finalizar, tenho um ponto cantado lá no centro que resume bastante o que disse acima.
"Construí uma casa tão linda
Com tijolo, cimento e vergalhão.
Mas bateu chuva, bateu vento
E jogou tudo no chão.
Mas bateu chuva, bateu vento
E jogou tudo no chão.
Vovô Firmino me ensina
O que eu devo fazer?
Pois o vento não derruba sua casa de sapê
Ô, tem dendê. Tem dendê, tem dendê
Tem dendê na sua casa de sapê."

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