Poder de síntese

quinta-feira, 12 de junho de 2008

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"Não sei bem como começar, talvez tu me digas que pelo começo é bom, mas começar pelo começo me dá uma idéia de normalidade e formalidade que não convém com a situação.
Decidiria, então, começar pelo final, mas isso seria bem previsível. Decido, neste instante, então, começar pelo meio.
Não, ficará complicado demais, começarei pelo início mesmo...
Deixo aqui claro que não tenho intenção de prolongar minha pobre e fútil existência terrena. Acredito num pós-morte e acho que ele é bem mais interessante que minha ante-morte, e sinto-me preparado para ele. Posso parecer egocêntrico, mas não, sei que estou realmente preparado.
Bom, preparado ou não, direi-lhes, sem eufemismos, vou matar-me ao bater do meio dia. São agora dez e meia do ante-meio dia e não prolongarei-me nos princípios, nem vejo necessidade, visto que todos sabem o que vou fazer.
Deixo claras as razões para tal atitude: cansaço e stress.
Sim, esta vida é muito cansativa, muito estresante: trabalhar para poder trabalhar pra poder trabalhar! Nunca este ciclo vai cabar? Cansei, simplesmente cansei, não vou mais trabalhar, eu disse há alguns meses. Sem dinheiro, agora estou sem água, sem luz e sem comida. Sofrendo, mas sem trabalho.
Daí percebi que não dá pra fugir do stress: Como eu não trabalhei, estou sem comida, magro, osso e pele, e extremamente estressado! Olha ele aí!
Simplesmente não consigo mais, não consigo agüentar esta pressão.
Agora estou aqui, sentado em frente a uma escrivaninha, com um papel de pão e um pedaço de osso queimado de frango, tentando escrever uma memória para alguém interessado nas razões de minha morte.
Já batem onze, devo preparar-me para esta nova fase e só tenho uma coisa a dizer. Não é só este o motivo de meu suicídio. Além deste tem também, talvez o principal motivo.
É porque, simplesmente, não consigo aturar..."
O detetive lia estas palavras, espremidas num papel de pão amassado, encontrado amassado,ao lado de um papel limpo e arrumado, onde estava escrito:
"Estou suicidando! Me esqueçam!"

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