Botão de rosas

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
Já estava ansioso, não aguentava mais aquela ansiedade...O cômodo era pequenino, apertado, infestado de nicotina dos outros usuários ansiosos que fumavam cigarro na esperança de acalmar os nervos...A situação era tensa...
Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
Levantei rápido da cadeira, rápido demais, fiquei tonto, cambaleei pra um lado da sala, e só não bati com força na parede porque duas outras figuras me ampararam antes do impacto iminente...
_Calma, cara!
_Relaxa!
_Ok...Foi mal....
Mas não estava realmente OK...Estava tenso, muito mais d que por toda a minha vida junto...
Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
E o primeiro foi chamado...Levantou-se correndo e saiu pela porta...Menos um...Quanto mais eu teria de esperar...
A espera até o presente momento fora longa, mas a espera, minutos antes era tão devastadora que parecia maior que todo o percurso até ali...Duas vezes...
Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
Aquele estado de fumante passivo já estava me enervando...Gostaria muito de sair dali, mas não dava...Simplesmente eu não conseguia...Era melhor esperar ali e suportar aquele cheiro irritante de fumaça fumígera e suor fétido...
Sim, todos estavam suando, apesar do ar condicionado aparentemente no máximo, visto o estrondo ressonante que fazia...
Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
Maldito relógio...Tentava abstrair-me da situação, dispersar o aglomerado de pensamentos que invadia a minha mente, refletir sobre algo, espairecer...
à medida que tentava focar em algo, outras milhões de coisas surgiam uma atrás da outra e dos lados em minha mente, e aquele maldito relógio estava me enlouquecendo, já que não me permitia sair da situação e viajar para um pseudo-lugar feliz...
Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
Não que não estivesse feliz, do contrário...Sentia-se muitíssimo feliz...Acho que era mais algo como uma apreensão...Não...Um medo...Não!Definitivamente estava tudo sob controle...Era como uma ansiedade...Sim...Ansiedade...
Tic-Tac, Tic-Tac, Tic-Tac..
Nem pestanejei...Subi na minha ex-cadeira, peguei o maldito relógio de parede e arremessei-o ao chão, espatifando-o, como se assim espatifasse a ansiedade, a apreensão, o medo e a vontade de fugir...Mas eu definitivamente não queria fugir...Como pude pensar em algo assim...Que espécie de homem sou eu que pensa em fugir??Não! EU não pensei em fugir...Fechei bem os olhos e balancei a cabeça, rearranjando os pensamentos e excluindo essa conversa tóxica de mim comigo mesmo...OU meus pensamentos, como queira...
...
O silêncio era triunfante.
Foi aí que aconteceu...
Quando reabri os olhos, estava lá a enfermeira de pé, chamando por meu nome, com um embrulho entre os braços e algo que parecia um botão de rosa, mas que eu sabia ser o fruto do meu amor com minha esposa. A minha filhinha, minha filha estava lá...Quietinha, olhinhos fechados, mãos apertadas, pele branca como um véu, cabelos, se haviam, era rareados e de um preto tão sutil...
A primeiro momento estaquei no lugar. Por um momento.
Arremessei para longe todo tipo de pensamento negativo e fui carregar em meus braços, aquele lindo botão de rosas, que desabrochou numa linda flor, minha filha, filha minha.

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