tem o tamanho do corpo sentado.
Água tá pelando! mas quem ouve o grito
deste menino condenado ao banho?
Grite à vontade.
Se não toma banho não vai passear.
E quem toma banho em clada de inferno?
Mentira dele, a água tá morninha,
Só meia chaleira, o resto é da bica.
Arrisco um pé, outro pé depois.
Vapor vaporeja no quarto fechado
ou no meu protesto.
A água se abre à faca do corpo
e pula, se entorna em ondas domésticas.
Em posição de Buda me ensabôo,
resignado me contemplo.
O mundo é estreito. Uma prisão de água
envolve o ser, uma prisão redonda.
Então me faço prisioneiro livre.
Livre de estar preso. Que ninguém me solte
deste círculo de água, na distância
de tudo o mais. O quarto. o Banho. O só.
O morno. O ensaboado. O toda-vida.
Podem reclamar,
Podem arrombar
a porta. Não me entrego
ao dia e seu dever.
Andrade, Carlos Drummont de. A senha do mundo.
Rio de Janeiro, Record, 1997.p.18-9
Rio de Janeiro, Record, 1997.p.18-9
1 conselhos:
Além de amar Carlos Drummont de Andrade e todas as suas obras eu vim dar uma olhada no blog que está lindo e muito interessante !
Aaaa não posso deixar de dizer que te amo né amigo !
bjãão !
meu panaca mais lindo e fofo !
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