Sinapses

segunda-feira, 26 de maio de 2008

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Ele pensava em jogar-se da ponte. A vida estava uma droga. Biólogo, sabia de todos os processos que induziam o pensamento. Todos os processos que eram o próprio pensar. Mas não queria que sua vida, seus pensamentos fossem simplesmente isso, simplesmente respostas a sinapses nervosas. Queria que sua vida tivesse um sentido, para assim ser mais do que sinapses.
Pensava no que sofreria, na dor que sentiria, e, estranhamente, o que viria depois.
Nunca antes havia pensado sobre pós-morte. Ainda ficava em dúvida se o que viria era apenas absolutamente nada, um sentimento sombrio de parar de pensar. Era agoniante pensar que numa determinada hora ele simplesmente pararia de pensar: seu cérebro pararia de funcionar, seu coração não mais bateria, seus pensamentos, as tais sinapses, cessariam, e ele não sentiria nada, não veria nada, nem a escuridão veria, porque se a visse estaria pensando. A morte seria a ausência do pensar? A total ausência de tudo, sobrando apenas a existência do nada? Era difícil pensar em algo tão abstrato. Seu pobre pensamento nunca havia vivido essa experiência, não tinha a mínima noção do que viria a ser isso.
Mas viver significaria continuar sua medíocre existência. Não que fosse medíocre monetariamente. Tinha dinheiro, tinha uma bela casa, mas não tinha mulher, nem filhos. APenas aquela vasta e gélida sensação de chegar em casa e encontrá-la fria, monótona e sombria. Ninguém o esperava em casa. De início aquela idéia o atraía: nunca pôde sair com os amigos, pois preocupava-se com sua mãe o aguardando em casa. Mas agora queria novamente aquele aconchego amterno, aquele calor humano. Mas não o tinha. Apenas aquela sensação de chegar em casa do calor humano da rua (calor este que ele não aceitava aquecê-lo, tinha medo das pessoas, do que elas eram capazes de fazer) e levar a fria baforada do vazio do dinheiro. A brisa gélida e torturante de ter tudo e paradoxalmente faltá-lo algo. Tudo é completo, faltar algo é tê-lo incompleto, ou seja, não é ter tudo. E para ele não era nem ter quase tudo, ou ter algo, era faltar alguma coisa. O pesar da palavra faltar o fazia bem. Esse pesar era um veneno, mas era um veneno que ele necessitava. Isto o matava um pouco a cada dia, mas sem esse pesar ele não sobreviveria. Era uma vida infeliz, uma semi vida, uma vida incompleta.
Enquanto pensava, a brisa da ponte lambia seus cabelos, beijava docemente sua face, e ele era encantado por sua beleza. ABriu os olhos, percebeu que estava num ótimo lugar. As montanhas eram verdes, estava numa cidade grande, mas aquele cenário, especialemtne aquele cenário, era simplesmente lindo. Era a entrada dos turistas, a paisagem era muito bem tratada. Notou cada detalhe: O modo como a brisa batia na montanha, penteando a verde grama; as gaivotas, que voavam como malabaristas no grande circo do céu, o maestro não era rígido, a natureza permitia flexibilidade, tudo estava livre, e ao mesmo tempo regrado; o oceano que acariciava o sol, que se punha, seu dourado característico, seus reflexos pefeitos naquela supefície cujas ondas não se via arrebentar, não eram ondas então, eram ondulçações da superfície.
Ficou tão maravilhado e tão admirado ao mesmo tempo, sentiu uma sensação, como levantar depois de horas sentado. Mas não sentia o alívio nas pernas, sentia por todo seu corpo.
Olhava ao seu redor e pensava quantas paisagens mais como aquela, quiçá mais belas, haveria pelo mundo. Tomou a decisão: viveria e exploraria o mundo. Não sempre, não queria que o equilíbrio natural, aquele que é flexível, fosse rompido. Viveria nas cidades, mas vez ou outra, exploraria o mundo, em busca de belas paisagens, para acordar sua mente e sentir mais uma vez aquelas sensações de alívio, mas vez ou outra, talvez 1 ou 2 por ano, a fim de não enjoar e deixar, permitir que aquelas belas paisagens se tornassem apenas respostas sinápticas aos estímulos do olhar.

1 conselhos:

Thalita disse...

E depois de tanto pensar sobre esse belíssimo modo de decidir migrar de volta as entranhas de sua terra natal. E vir à cidade apenas para pagar as contas com o mundo. Decido comentar e pricipalmente fazer um comunicado importante.
Seu blog encontra-se em meus favoritos. parabéns (:

beijos querido, ótima história
:*