Relativo

quinta-feira, 29 de maio de 2008

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Todos da cidade conheciam o tal Jack. Jack era uma cara não muito bonito, mas também não horripilante. Jack usava corretamente seu português, pagava suas contas em dia, Jack era um cidadão, por assim dizer, apenas isso, um cidadão. DIgo isto porque Jack não era filantropo, Jack não era pessoa famosa, Jack não era ladrão, Jack não era político.
Mas Jack era conhecido em seu círculo social por um motivo: Era adepto fidelíssimo da teoria da relatividade. Absolutamente tudo era, para ele, relativo. Diziam-no feio, ele dizia que dependia de quem olhasse, pois de certo era menos feio que um cavalo com cabeça de peixe e pés no lugar das patas. Diziam-no chato, ele dizia que dependia do olhar, uma vez que os discursos políticos da região entediavam até uma criança hiperativa. E assim Jack ia relativamente bem.
Um dia, ao sair da padaria, JAck foi pego por um fanático, que desejava por tudo provar que ele era falho, e começou:
_És esperto?
_Depende dos teus olhos, posso não ser o mais sábio dos homens, mas de todo, não sou o mais burro. Sou, para uma criança, esperto, para Einstein, um leigo.
_És Agitado?
_Bem, muito bem: EM relação a uma pedra, sou ativo como um falcão, mas em comparação a este, não passo de uma pedra.
_És sincero?
_Ora, sim, se comparado a um mentiroso. Posso ter mentido para alguém, mas ser sincero de todo. Não conto nada além da verdade, exceto quando minto.
_És mulher?
_Epa! Não ponho em dúvida minha masculinidade, sou de todo homem, nasci com meu órgão sexual característico dos seres humanos masculinos, mas se falas de sentimento, não sou homossexual, mas sou sensível, sou perceptivo. Se essa é, na nossa bruta sociedade, uma característica feminina, digo-lhe que sim, sou, em partes, uma bela dama.
_Estás morrendo?
_Ora meu caro amigo, estou de todo vivo, continuo executando minhas funções vitais, minhas células ainda funcionam satisfatoriamente, estou sim vivo, mas se considerares que vou morrer um dia e que a cada dia que passa este fatídico acontecimento está mais próximo, ou seja, minha vida se vai a cada segundo, sim morro um pouco a cada segundo até estar completamente morto, num dia que, espero, demore bastante a chegar.
O sujeito ficava irritado. Era impossível fazer uma pergunta cabível de ser impossível dele responder. Então pensou, agora agumas pessoas estavam ao redor, assistindo ao intelectual confronto. Jack, sua face risonha pela vitória iminente, foi perdendo o riso a cada movimento de seu rival, desde que este puxou uma adaga, a poucos instantes. O desafiador então perguntou, com ar confuso, pertubado, porém confiante:
_E então, hã? Meterei-lhe esta adaga por seu peito, então, você morrerá?
_Ora, isso depende de você. Morrerei se me deixares aqui ao chão, a espera da morte, mas se me socorreres, poderei-me salvar e não morrerei de todo.
_SIM, VOU ENFIAR-LHE A ADAGA E DEIXÁ-LO SANGRANDO A MORTE, ENTÃO?
_Ora, sou pessoa religiosa. Me enfiarás a faca, sofrerei instantes, mas logo sentirei o alívio da dor e não mais estarei morto. Meu espírito, minha essência não pode ser ferido por armas brancas, armas negras, ou qualquer tipo de arma humana. Meu espírito é intocável; minha essência, imortal.
E o homem havia-se suicidado, há muito, por começar este diálogo que ele sabia não ter fim. Agora, seu suicídio havia chegado ao ápice. Estava ali no chão, seu corpo inerte.
_Tsc,meu caro amigo. Pertuba-te com a relatividade e pensas que vivendo a morte terás vivido a única certeza. Está enganado, e irá perceber quando sua alma acordar e você ver, que, mesmo a morte, é relativa.
E saiu.

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