Dama de vermelho

quinta-feira, 22 de maio de 2008

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Cristina era mulher bonita: Seios fartos, cabelos loiros angelicais, em sua face a doçura dos serafins, mas sem androgenia. Definitivamente era mulher, e isso percebia-se de longe. Arrancava suspiros e olhares de mais da metade do povo masculino do bairro. Mas, embora seja difícil acreditar no que lhes direi, Cristina tinha um defeito, aliás, um defeito desconhecido. Ninguém sabia ao certo quem era seu marido, mas supunha-se que, para atrair uma mulher como aquela, devia ser um garanhão, homem forte, bonito e vistoso. E Cristina era totalmente fiel ao estranho desconhecido. Nada podia fazê-la traí-lo. Vários homens tentaram investidas em vão. Cristina era rígida: traição não era opção.
Enfim, Cristina ia e vinha pela cidade, eu, Antônio, morava na casa em frente a sua. Não que eu fosse fofoqueiro, ou pelo menos não admito, mas Cristina saía de casa todos os dias às cinco da manhã e, estranhamente, sem ter retornado a casa, saía novamente às sete da manhã.
Eu ficava intrigado como isso acontecia. Cheguei a observar sua casa por alguns dias: definitivamente ela não voltava, pelo menos não visivelmente, mas arrumava uma maneira de sair novamente às sete. Sabia que era ela mesma, pois nosso país não permite bigamia e Cristina era casada com o misterioso desconhecido. ALém disso, sua marca era o vestido vemelho. Cristina sempre usava um vestido vermelho. Seja de algodão, seja sintético, era sempre um vestido, e vermelho.
Um dia, às quatro e meia da manhã, fui à rua. Batata! Às cinco da manhã saía Cristina, com sua face angelical. Dei-na um bom-dia, como quem não queria nada e continuei disfarçando, finjindo aparar a grama. Fiquei observando a casa, tomei coragem e invadi. Estranho era o fato de a porta estar aberta. Mulheres, mesmo casadas, nunca deixam a porta aberta, percebia isso pela Célia, minha filha. Havia-se casado com um rico perfurador de petróleo, e mesmo quando ele estava em casa, a porta estava sempre trancada. Pelo menos era o que diziam as pessoas ao redor. Eles moravam longe, havia tempos não via Célia. Decidi que faria-na uma visita.
Voltando a mim, havia invadido uma casa. Estava indo longe demias com aquilo. Para que? Porque aquele fato intrigava-me tanto? Bom, já estava na chuva, porque não pegar um resfriado? Continuei andando. A casa estava aparentemente vazia. Subi os degraus que levavam ao segundo andar. A porta, aparentemente do quarto, sabia pois as casas da rua eram padronizadas, estava entreaberta. Ouvi um barulho no primeiro andar: pelo vestido vermelho, percebi que era Cristina. Pela primeira vez ela havia efetivamente retornado. Mas só para fechar a porta. Continuei andando em direção ao quarto, abri a porta e a cena a seguir chocou-me de tal maneira que simplesmente estupefei. Célia estava nua, atirada à cama. Suas roupas, espalhadas pelo quarto. Havia finalmente achado o misterioso marido de Cristina. E "ele" dormia, sua respiração leve e serena, quase angelical.

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