Blues

terça-feira, 20 de julho de 2010

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Outro dia, estava passando pelos canais da televisão,num entediante fim de semana de férias, sem absolutamente nada pra fazer. FUi passando so canais, passou a fox, estava repetindo pela quincentésima sétima vez o mesmo episódio dos Simpsons; passei no universal, estava passando um filme qualquer que não me prendeu a atenção (era filme de ação, não gosto deste tipo de fime); passei pela Warner, estava passando também um filme estranho que nem parei para descobrir o gênero. Então, no talvez mais inusitado dos canais, algo me chamou profundamente a atenção: a TV Brasil, vulgarmente conhecida como o "canal 2". Quando aquele numerozinho pequeno, o primeiro dos números primos (certo?), o segundo número par do conjunto natural, o mínimo divisor comum de qualquer número par apareceu na minha tela, algo me prendeu a atenção, algo me fez levantar da cama onde estava, sentar-me e pregar meus olhos na tela: estava passando um showzinho de um cara, provavelmente num bar. Ele segurava seu violão com firmeza, marcava o tempo com seu sapato bege enquanto balançava a cabeça com a música. Não, amiguinho, não era axé music que ele tocava. Ele estava tomado pelo blues.
Devo agora uma explicação para isso, eu suponho. Se não, pule este parágrafo. Amo música, apesar de não conhecermuito sobre ela. Acho, no entanto, que a música é a exposição perfeita da sintonia da alma, uma maneira que os humanos encontraram de expressar através de vibrações mecânicas as vibrações que sentiam no íntimo de sua alma. Acredito ser a música a forma mais perfeita de comunicação entre os seres, pois através dela, e talvez somente através dela, você pode perceber exatamente o sentimentode uma pessoa. Infelizmente, há muita deturpação da música (ei-lo, axé music), que não passam de sucessões lógicas de sons ritmados e por vezes repetitivos, mas que juntos formam algo sonoramente agradável para uns(insuportável para outros), ao qual são introduzidas letras. Aí, devemos fazer uma outra observação: não posso dizer que não gosto de nenhuma música letrada, do contrário, gosto muito de muitas músicas desse tipo. Mas não é a mesma sensação que tenho ao ouvir uma música tocada daquela forma, daquele blues, e não poderia ser. Afinal, não há como traduzir a alma humana com apenas vinte e tantas unidades fonéticas, ou há?
Naquele instante, naquele momento, eu pude sentir que o homem improvisava sua música com o coração. Seus dedos, que deslizavam ágeis pelos trastes e pelas cordas em movimentos bem definidos, eram, naquele instante, meramente servos de suas sensações. Eram agentes transportadores das pulsações de seu coração. No improviso, ele permitia que as notas e os ritmos exprimissem as mesmas sensações que sua face, espelho de sua alma. Ele tocava com emoção, tocava música de verdade.
Ao fim do improviso, ele chorava. Talvez, na plateia que aplaudia, ninguem tivesse sentido o que ele sentira ou quisera transmitir; talvez, todos tenham deixado seus corações entrarem em sintonia com as pulsações e as vibrações da música que preenchiam o espaço do barzinho, e tenham sentido o mesmo que ele. Minha única certeza era que eu o havia feito, e acabara de passar por uma das mais incríveis experiências musicais e sensoriais da minha vida.Para minha surpresa, o bar era aqui no Brasil, no Paraná se não me engano.
Àqueles que gostam de axé music, desculpem-me. Mas aí via algo que vocês podem achar hipócrita ou contraditório: gosto de samba e pagodes antigos. Mas é aquilo: gosto, mas não me toca daquela maneira. Nem perto.
Agora, preciso ir no banheiro.

1 conselhos:

Anônimo disse...

Não tem como eu comentar alguma coisa aqui, me sentiria um lixo comparado com a sua maneira de escrever!
Parabéns =)

Gi Rossini