Mausoléu

terça-feira, 28 de abril de 2009

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Era noite e estava muito chuvoso, as trevas eram tão densas e compactas que poucos foram os animais a perceberem a chegada do carro, faróis desligados.
Silencioso, sabia muito bem aonde ir, pois não se usou dos faróis, no entanto fazia precisas curvas pelo caminho.
Depois de alguns minutos, quarenta ou mais, chegou, enfim, ao portão de madeira apodrecido, trancado com correntes pesadas e cadeados enormes. Riu-se, aquele sorriso diabólico sem a menor emoção, e puxou o portão, que, de tão podre, desmantelou-se.
A casa era um ponto de um negro mais denso que o negrume ambiente. Estava lá, no fim do caminho de barro ladeado pela grama alta, esquecida atraves dos anos.
E, então, ele andou, determinado, focado. Seus olhos estreitos, fixos num ponto adiante, a euforia crescente ribombando em seu peito, domando-lho.
Parou, então, à pequena varanda de cimento. A casa tinha um aspecto deplorável: hera crescia pelas paredes anegrecidas pelo mofo; janelas abertas e quebradas, a porta caída a um lado. Um resquício de vivêrncia anterior presente na varanda era uma murcha bola de couro em preto-e-branco.
Admirou por um tempo aquilo e, insensivelmente, atravessou a varanda, visando o interior. AO empurrar a porta, deparou-se com uma cozinha totalmente destruída: a pia de plático estava quebrada e imunda; a geladeira, enferrujada e sem porta, deixando visível montes de alimentos apodrecidos com o tempo.
Pisando em um centímetro de sujeira encardida acumulada no chão, seguiu para adiante, se deparando com uma sala.
Mal tendo tempo para reparar nesta, que possuía mobília de madeira mofada e destruída, com uma antiquada televisão sem tela e um sofá mofado de molas aparentes, uma luz chamou-lhe a atenção no quarto, à direita.
Passando pela sala, chega ao quarto e surpreende-se com um homem baix, repleto de cabelos negros emaranhados numa confusão de barba, cabelo e bigode, magro, fétido e, se não estivesse se movendo, poderia estar morto por desnutrição.
Tentava acender um fósforo numa caixa mofada, a fim de incendiar o óleo do candeeiro à sua frente. Tentativas inúteis.
--Sabia que viria um dia, Paul.--Disse o homem ao chão. Sua voz era um tanto rouca.
--Mostre-me!--Ordenou, imperativo, do alto de sua voz clara, mas curiosamente silvada.
--Não a tenho. - DIsse o homem, sem se desviar de seus inúteis esforços.
--É curiosom no entanto, que saiba exatamente do que estou falando.
O homem, enfim, pareceu momentaneamente aturdido, mas replicou, tornando seus afazeres:
--Já a tive, Paul, e você sabe disso. Mas sua glória foi como um doce mel do qual eu provei, e logo fui suprido.
--Mentira!--Sua voz soou curiosa pelas paredes, ecoando sinistramente.
--Paul, Paul, Pual--lamentou-se--Você continua miseravelmente mesquinho. Já lhe disse: não mais a tenho.--Hesitou um mínimo e disse:--Mas devo admitir que apreciei.
Um ódio profundo emanou de seu ser, era palpável, claramente perceptível, não via como o velho continuava ali parado, sustentando os esforços de acender seu candeeiro à óleo.
--Vai me matar, Paul?
--Está me desafiando?--Disse firme, mas com um leve temor ao fundo. O velho parecia saber.
--Você teme a morte, Paul, um pouco menos, talvez, que os mortos.
--Ora, velho, entrei nessa casa moribunda, passei insensivelmente pelos cômodos e tenho uma arma! Você acha que temo algo?
--Acho.
--Por exemplo?!--Ironizou
--Ora, o fato que percebeu desde que entrou aqui. VOcê veio atraído por uma luz. Onde ela está, meu caro?
Um sorriso pareceu rachar as duras faces encovadas do velho e sobreveio o terror: Como ele conversava com o velho, como o via, se as luzes estavam todas apagadas? Quase no intante em que percebeu, sobreveio a escuridão. Seu coração pulava na garganta, queria abandonar seu corpo. Não enchergava absolutamente nada. Onde era a saída?!
--Durma, Paul! Relaxe e aproveite. Ah! Você não pode estar...co medo?--Disse uma voz na escuridão, em tom sarcástico, seguido por uma risada crescente. Emanava das paredes, comprimia-o no centro da casa, mais parto, cada vez mais perto, cada vez mais...
Fechou os olhos, se agachou e segurou a cabeça com as duas mãos.
--Boa noite, Paul!
Um baque, uma dor e nada mais.

1 conselhos:

SUSANA disse...

Ai, que medo que deu! Sinistro...